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A incrível velocidade do tempo

Outubro chegou, último trimestre do ano, que já é o de 2023. E daí? Normal, não fosse o susto que tomei ontem ao entrar – como é minha rotina – num shopping em busca da cafeteria. Lá nesse meu espaço diário tudo normal, mas notei loja já com motivo natalino na decoração. Meu cafezinho solitário foi uma verdadeira viagem.

Transportei e me permiti devanear no tempo. Não da infância, quando dormia cedo e me esforçava – era difícil – por comportar bem para ser lembrado pelo bom velhinho. Tampouco dos tempos recentes, que já por mais de dez anos visto de Papai Noel, visitando creches, asilos e escolas especiais. À propósito, este ano por razões de ordem pessoal, não farei esse roteiro.

O que me fez divagar, na verdade, foi sobre a sensação de que quanto mais velho ficamos, mais rápido o tempo passa. Lembrei de uma vizinha, lá de Araxá, que me deixava apavorado na infância dizendo “um passará, dois não chegará”. Ela assegurava que não entraríamos no ano 2000 e o mundo ia acabar. Chegou, passou e já se vão 23 temporadas depois da mudança de milênio.

Meu sábio pai, que já contei previsões que fazia nas noites dormidas na fazenda, dizia que com o nosso envelhecimento a sensação de que a velocidade dos segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos são rápidas. Para um garoto que tinha quatro meses de deliciosas férias – dezembro até fevereiro e ainda julho – era estranho e difícil aceitar e entender essa afirmação. Meu saudoso papai ainda falava em consciência ecológica e previa ligação telefônica por vídeo. Isso nos anos 60 e 70, me deixava constrangido frente aos meus amigos com esse delírio.

Mas hoje a prosa é sobre o tempo e a velocidade dele. Se o comércio já está investindo nas vendas de Natal, significa que o ano está na reta final. Logo vamos entrar em 2024. E assim como no atual, será mais rápido ainda que os anteriores. Já dobrei a primeira metade da fase sexagenária e estou caminhando para ser septuagenário. Na minha infância qualquer quarentão ou quarentona era velho. A propósito, domingo foi dia do idoso. Eu? Nuh! Ainda me lembro com doçura dos dias das crianças, aniversário e natais, todos cheios de presentes. Agora comemoro o dia do idoso e outros, sem qualquer festividade.

Pode até parecer que estou melancólico, mas juro que não é o caso. Só mesmo assustado com a velocidade do tempo e as consequências desse longo percurso. Assim como um automóvel, que com o uso vai apresentando cada dia mais defeito, o nosso corpo também vai debilitando. O passo largo e rápido deu lugar a uma caminhada lenta. A escada que subia com agilidade, agora parece escadaria de igreja pagando promessa. A respiração fica ofegante. Paciência!

Dias atrás, numa agradável prosa com um amigo de trabalho – pouco tempo mais que eu nessa vida – comentávamos sobre essa situação. De tempos em tempos, vamos percebendo alterações da resistência. Sempre fui muito ágil e prático, agitava várias situações ao mesmo tempo, pois ando numa incrível morosidade. E a memória? Saio de casa determinado a fazer isso e aquilo, já no isso esqueço do aquilo. Até sei que tenho outro compromisso, mas lembrar é que fica difícil.

E onde estacionei o carro? Foram raros, mas já me ocorreu. Daí tenho de voltar ao roteiro do trajeto até onde estou, na tentativa de localizar. Ainda não voltei pra casa de uber, mas aconteceu de chamar e depois perceber que estava motorizado. Nesse caso, uso o álibi de ter ficado por três ou quatro anos sem carro.  O tempo passa, dizia o locutor esportivo Fiori Gigliotti. Ce la vie! Enquanto ainda tenho senso crítico e relativo humor, rindo de mim mesmo. Até quando? Sigamos!

Blogueiro

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  • Minha mãe também usava esse provérbio bíblico, de mil passará de 2 mil não passará. Ainda dizia que a ida do homem à lua era um presságio do fim do mundo. Afinal, a exploração movida pelo capital acabará com a terra e o homem precisará de outro local para sua sobrevivência depois que a terra se transformar num deserto, lembrava cela. Certíssima a dona Luisa. Dia do idoso? Somos, ma non troppo.

  • Rir de si mesmo é a melhor saída, Eduardo. Pego carona na sua risada! Parabéns pelo texto com o qual, nós os quase septuagenários, nos identificamos tão bem!

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