Pressão

Eu nunca soube cozinhar. Porém, dez anos atrás, ganhei de Natal uma panela de pressão. Estava grávida de meu primeiro filho. Pensei que nela poderia preparar as papinhas quando chegasse a hora dele aprender a comer. 

Era a panela mais bonita que já tinha visto. Grande, reluzente, de aço inox, com uma válvula roxa para o escape do vapor.

Colocava nela água e uma porção de legumes picados. Cozinhava. Amassava tudo com o garfo e separava em potinhos. Foram os primeiros pratos que executei na vida.

Quando o segundo filho nasceu, voltei a usá-la. Um pouco mais hábil do que da primeira vez. A papa já não ficava mais tão mole. Evitava adicionar os legumes que pudessem causar amargor. O bebê comia com a boca boa, porém em pequena quantidade. Mesmo assim, parecia apreciar.

Desde então, a panela vem servindo para muitas coisas. Já fez gororobas e aqueceu iguarias. Já ficou esquecida no fogo e queimou toda a comida. Já explodiu uma vez.

Esta manhã, usei-a para cozinhar feijão. Ficou ótimo. Grãos tenros, caldo espesso. Levei dez anos para aprender como se faz. Ultimamente, é raro que algo não fique bom quando preparado nela. Entendi seu funcionamento e ela, com seus caprichos e macetes, corresponde adequadamente ao meu manejo.

Observando bem, notei que há duas coisas fortemente capazes de produzir tesouros nesta vida: a pressão – quando não se pode evitar suportá-la – e o tempo.

 

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