Via Ápia: a via romana, a via da Rocinha, o livro

Quando recebi a proposta de um grupo de Amigos do Livro para lermos Via Ápia, imaginei que o livro estava relacionado a via antiga romana. Para minha surpresa, ele está ambientado na favela Rocinha no Rio de Janeiro, sendo a Via Ápia o lugar de fluxo comercial e moradores da localidade. E as Vias se cruzam em algum momento?

Pesquisando sobre o nome dado na localidade brasileira, encontrei que nos anos 60 o italiano Pompeu Feltrin, morador da comunidade, homenageou a rua do comercio da Rocinha com o mesmo nome da Via Ápia de Roma. Essa que também foi batizada em homenagem ao político e escritor Appius Claudius Caecus. Consta que era uma das principais estradas do Império Romano.

O início da construção da “Rainha das Estradas” – Regina Viarum, carinhosamente chamada pelos romanos, deu-se em 312 a. C, com a dimensão de 300 km, com o trecho de Roma a Cápua (região da Campania). Alguns relatos informam que seu percurso chegava a 500 km. A principio foi concebida para fins militares e comerciais, com o passar dos anos tornou-se testemunho de uma história de mais de 2.000 anos. No século XIX tornou-se um museu ao ar livre. Passear por ela é entrar na dimensão e formas da construção civil da antiguidade. Além da visitar a estrada, pontes, há também sepulturas e necrópoles que nasceram ao seu lado, pois eram proibidos cemitérios dentro das cidades. Também, foi cenário do épico e trágico evento da rebelião de Espartaco e seis mil escravos em 71 a.C. Eles capturados pelo exército romano, mortos e seus corpos crucificados ao longo da estrada.

Atualmente, seu percurso inicia na Porta São Sebastião. Tive a oportunidade de visitar a basílica e as catacumbas homônimas ao santo. É de impressionar a forma e condições sub-humanas que viveram os cristãos durante os anos de perseguição religiosa dada pelo império romano.

A Via Ápia – da Rocinha, é onde transcorre as cenas do livro de Geovani Martins. O autor relata o cotidiano da vida de cinco jovens moradores locais. Desenvolve o enredo, relatando num linguajar corriqueiro, sobre as preocupações dos moradores quando uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) ocupa o morro.  A ocupação traumática, transtornos e mudanças na vida dos moradores da Rocinha fazem parte do enredo. Uma realidade pouco conhecida dos brasileiros.

O que faz ligação das duas Vias Ápias, a antiga e a da favela? Um aclive com certeza, mas também a vida que passa com suas várias formas de viver, trabalho, perseguições e muitas vezes no limite da agressividade humana.

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