Desculpe o mal jeito

Silvia Ribeiro

Desculpe o mal jeito.

Mas é que eu só sei ser assim, cheia de manias e confusões. As vezes pareço aqueles dramalhões de novela mexicana que ninguém assiste e que todo mundo conhece a história.

Vou tentar ser sucinta e te dizer o que anda perturbando os meus hormônios.

Acho que é esse seu jeito de menino levado misturado com gente grande, esse seu sorriso indecente que despe as minhas fantasias, ou esse perfume lascivo que você esquece na minha roupa.

Ou será esse seu olhar pedinte que não dá vontade de recusar? Enfim, não sei dizer.

Talvez seja um pouco de tudo isso ou muito do que eu ainda quero descobrir.

Pode ser também essa necessidade fisiológica de querer estar sempre por perto, esse frio na espinha quando você demora, esse desejo que me tira o sono, ou esse encanto de romance com um desembaraço de vida real.

Ou quem sabe, esse benquerer sem explicação envolvido em nuances de alertas e riscos que me tira o chão e muda as minhas convicções. Até mesmo essa viagem longa que eu me permito fazer quando estou junto do seu corpo e que não me faz querer fazer as malas, ou a sua maneira arteira de me chamar de minha mulher.

Pode ser que sejam esses arrepios sem pretensões, essas suas caras e bocas sem melindres, o seu gozo sem exigências, o seu chega pra cá sem distâncias nem contrato de correspondência e deliciosamente cheio de segundas intenções, a sua alegria ativando as minhas curvas, ou os seus braços generosos me pegando no colo.

Pode até ser essas sutilezas de toques dizendo o que eu quero, as suas mãos andarilhas me florindo por dentro, essa lista vasta de sentimentos juvenis dormindo na minha cama, o seu gosto singular me roubando a calma, o seu coração me possuindo lindamente, ou esse seu amor cheio de reticências tomando café da manhã comigo.

Não sei dizer ao certo: mas acho que é esse seu dom de me fazer feliz.

Desculpe o mal jeito, mas não dá pra ser sucinta quando o assunto é você.