Raniere Sabará
Eu aprendi que a vida é uma só e nessa vida quem me padece não dorme e se dorme descansa em meu peito. Faço morada no vento e ergo meus sentimentos aos céus. Sim. Não digo que seja muito, mas, é a forma que encontrei para lidar com mudanças.
Se há processo de mudança penso logo em natureza para refugiar do pensamento que não se torna presente e por um momento me faz não viver. Lembrei das manhas no parque onde busco refúgio para reaver a chama da alma. Havia uma árvore que demonstrava uma peculiaridade em si. Por si e por nós. Raízes que germinavam e cresciam em deformações. São deformações que se tornam únicas por si só e assim eu vi meu corpo. Nossos corpos. Ele se molda, cria, contorce e se envoca no vento.
Vento que me aquece. Som que sacoleja, que protege e me acalma. Afrouxa o peito apertado. Derramado em folhas e pergaminhos tão sutis. E assim, logo me recorro ao tempo. De fato.
Tempo. Tempo que é pra dar tempo de respirar. Tempo que é rei esperando a hora de voltar. Tempo que escuta. Fixa. Espaço. Território. Lugar. Lugar esse que não sei de onde vim, pra onde vou, mas, sei que ainda estou ao lado de quem me cria, cuida e não dorme. Durmo no teu colo. Aqueço em fogueira a alma que se esvazia no tempo. Balanço como a copa de donato. Cabreço que dá nó. Nós. Somos um só. Somos um todo. E se há todo, ainda ei de lembrar da noite que adormeci ao ninar no teu canto.
Canto da terra que não a piso, apenas sinto. Sinto tanto que viro fogo. Feitiço. Feiticeira. Sobrevoo sobre a luz, revirando as cartas do sol e bravejando em mestria aos desejos dos meus pelos. Poros. Gritos com olhos de águias amordaçados em ancestro.
E se ainda feitiço os encontros dos corpos que se entrelaçam em bocas, relembro que as mudanças serão passagem de ida da força para um dia ser.
Quem? Só o tempo pra dizer.
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