O regime

Taís Civitarese

Tentei fazer regime, mas apareceu aqui em casa um panetone recheado embrulhado para presente em papel celofane brilhante que atrapalhou meus planos.

Mais tarde, vieram biscoitinhos de nata feitos por uma senhora, enviados como agradecimento por uma boa ação praticada. Eles me olharam com aspecto tão crocante que pensei que não faria mal algum deixá-los derreter em minha língua acompanhados por um cafezinho.

Uma amiga trouxe de viagem um saco de chocolates e achei uma baita desfeita não comer quatorze como forma de receber esse carinho. Outra enviou um bolo que ela mesma fez seguindo receita da família e não tive como não prová-lo algumas vezes para conferir atenciosamente aquele aroma de laranja com canela tão único e hereditário.

Hoje à noite, teremos um encontro de Natal na minha irmã e vejo como impossível não partilhar do pudim especial feito pela tia ou não comer e elogiosamente repetir o tender que mamãe preparou cuidadosamente de véspera. Não poderei nem mesmo recusar a metadinha do quadrado de chocolate que minha sobrinha partirá para mim, como prova da sua generosidade mais pura. Não tirarei o miolo do pão e nem as passas do arroz porque afinal, é Natal e somente uma vez ao ano podemos provar cada sabor desta época que também quer dizer celebração e agradecimento.

Se comida também é afeto, as calorias se tornam detalhes insignificantes. E por mais que venham a significar no futuro alguma coisa diferente nos cintos e cinturas, gosto de pensar que incorporei todos aqueles ingredientes como forma de absorver o carinho de quem me proporcionou tantas delícias, da mesma forma que gosto quando alguém se delicia com minhas humildes receitas.

Se isso resultar em quilinhos a mais, por ora penso que esses quilos são pedaços de amor materializado e recebido que carrego comigo. São consequências da partilha, símbolos da comunhão conjunta, vestígios de momentos alegres vividos.

Meu regime tem que abranger o aporte de amor simbólico oferecido pelo alimento. Tem que computar as porções amorosas cujas calorias aquecem o coração e fornecem energia vital. Se não for assim, será apenas um plano de encolhimento… Meu, da alegria e do prazer de viver.

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