O inesperado

Sandra Belchiolina
sandrabcastro@gmail.com

O inesperado, a surpresa, o impensável, o inusitado, o imprevisível, o fortuito, o incalculável. Início a crônica desta semana com os acontecimentos impremeditáveis desse período, pois o inesperado aponta a surpresa, o que me pôs a escrever sobre eles. Darei nomes aos três momentos inusitados que me surpreenderam com arte, pensamentos e contemplação das belezas da natureza.

A arte voa,  crava e encrava na grama fazendo uma intervenção artística. Na mesa três amigos à espera do jantar que estava sendo preparado na cozinha do aprazível restaurante de Cumuruxatiba, entre conversas e comentários sobre a Copa do mundo. Um movimento é feito, e o garfo que estava à espera na mesa para seu uso, é arremessado de forma misteriosa, por um gesto imprevisível. Os olhares se voltaram para a direção da mágica. E lá estava ele fincado na grama, fazendo sua mostração, compondo um cenário hilário. Será que era devido ao fatídico day para o futebol brasileiro? Nossas chuteiras despediam-se dos gramados da Copa de 2022. O imprevisível, a impensável saída da seleção brasileira da Copa perdendo pra Croácia. O fortuito time da Croácia perdera para Argentina de 3×0. Será que cabia agora somente uma espetadinha? Ou, talvez apontando que o verde da natureza pede passagem? Ou, quem sabe, brincando conosco, e lembrando para os não adeptos de salada de que gosta de verde são os animais? Não é isso a fala dos carnívoros? Fotos tiradas pelo amigo para registro. Ele brinca: faz uma crônica disso. Não pensei nessa possibilidade até o momento da escrita e lembrando de outros inusitados que decorrem nos dias seguintes.

Em vilas como a de Cumuru, andamos pelas ruas encontrando conhecidos. E, estava eu retornando da compra de um prometido mel das abelhas e florada lá pelas bandas da praia Calandrião após dois anos de tentativas. Esse dia havia conseguido depois de muitas caminhadas, contatos e desencontros (que dariam outra crônica). De porte do precioso líquido e também do própoles da florada do mangue, eis que, uma amiga vem em minha direção.

– Vamos comprar pão-de-queijo? Me contaram que tem um bom e o preço também.

 Fomos juntas ao Empório. Ao retornamos para Avenida Treze de maio, onde fica sua casa e o um dos trajetos para minha, uma voz pergunta – estávamos na calçada de sua residência.

– Posso arrancar esse broto? Vou fazer um chá para dor de dente. 

Sendo autorizada a poda a senhora continua:

– Isso é para matar os vermes dos dentes. 

Esse momento meu pensamento estava absorvido nas mulheres raizeiras, as que possuem conhecimentos sobre plantas medicinais. Vagando, também, pelo evento que participei sobre elas na sede do Parque Nacional da Serra do Cipó. Quando escuto a palavra verme. Verme? Como assim? Fiquei tão surpresa que não tive coragem de perguntar como seria esse verme. A mulher raizeira e eu seguimos a caminhada. Ela trazendo o ramo na mão para curar o verme do dente – o incalculável. Eu respeitando sua fala e saber, afinal havia algo a ser expurgado de seus dentes – a surpresa.

Dia seguinte, numa tarde de ventos de 33 km/h onde minha árvore ora assoviava, ora uivava.  Tarde que poderia ser chamada de tarde dos ventos uivantes ou tarde de extras (acho que pode outro sinônimo de inesperado. Extra do pedreiro que em minha casa trabalha, extras do paciente que precisava de uma sessão, pois estava angustiado, extras de organizações caseiras que devido as incessantes chuvas demandam extras, extras….) O impensável fez suas urgências, e me convocaram a mais trabalho mental e corporal – haja momentos. Absorta nesse remanejo, algo vem do céu como mágica. Entre tantas demandas houve numa fortuita olhada para o horizonte. O que está na minha frente? Um arco-íris! Um não, dois – um mais apagadinho, é verdade. Estava lá, do outro lado do morro – no da Fumaça. Ali estava o pote de ouro – o inusitado. Momento para contemplar e escrever.

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