Viagem é mistério. As paisagens são o que mais me encanta. O carro em movimento demonstra a arqueologia de músculos. Minúsculos. Montanhas. São tantas espécies e diversidades naturais. Nessas paisagens os pássaros cantam afinados e as flores são revestidas de histórias por traz das casinhas de pau sob a serra.
Me pairo a pensar nos nomes detrás dos lares ao longo da estrada. Dona Sinhá. Por algumas vezes a vi sentada com sua cadeira-balanço na calçada. Seu dia era avesso à cidade.
Quando ainda criança, sua sabia avó lhe passara os ensinamentos de colheita da pequena área de plantio do terreiro de Pedra Rio. Dizia-lhe que sua subsistência e harmonia se encontravam ali. Os pés de pirangueira, açafrão, manjericão e ervas daninhas deveriam ser cuidados como criança a ninar. A grande sábia dizia que ali estava o sentido do tempo. Havia também as raízes de mandioca, tomate, limão e mamão que deveriam ser cuidados como faróis que levitam nas lagrimas de chuva em lua cheia.
Pela palavra, Dona Sinhá se construiu enquanto ser como fonte rochosa em ilha. Às 5:00 da manhã, o som do vento e o canto do galo, lhe demonstra que um novo dia está para nascer feliz. O altar de preto velho na cabeceira do quarto, faz de seu corpo fechado. Sempre dizia que quem a protegia não dormia. O cheiro do pasto, para ela, era um perfume que adentrava terreiro. O cheiro do café, colhido no dia anterior, era aconchego de simplicidade pela vida que tivesse.
Hora de trabalhar. Digo, terapia. Sinhá não via a agricultura familiar como trabalho, mas sim, um modo de vida que jamais se imaginaria sem. Gostava de descalçar os pés, pois, acreditava que a conexão com a terra a deixava pertencente de si. Essa lasca, ruina meio gasta que consideramos trabalho na cidade, para Sinhá era bem-estar social partilhada como profunda ancoragem ao estar com alguém.
Por desencontro, a minha relação com o tempo era diferente e precisava me despedir de Dona Sinhá. Ainda havia de trabalhar, mas, não pude deixar de sentir meu peito palpitar com o nosso encontro que me foi alvo, como benção de Caeme. Pela partida do sorriso amarelado, pelos olhos pretos de jabuticabeira, entendi que, talvez, a nossa relação de pertencimento no mundo se corrompeu muito antes de pensarmos em resistir, embora sei que a mudança do sagrado feminino será a arma da simplicidade e esperança do bem-viver.
Mário Sérgio Difícil encontrar empregos naqueles tempos. O assunto em televisão, rádio e jornal, era…
Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Moro em uma região de baixa altitude da cidade, a um quarteirão…
Peter Rossi Nada melhor que uma boa sesta, estirado no sofá da varanda, depois de…
Wander Aguiar Talvez eu nunca mais consiga tal proeza, mas sim, meus queridos leitores, eu…
Ando exausta com a hipocrisia. Exausta com quem profere a frase “moral e bons costumes”.…