Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Mia Couto alerta que não precisamos de mais tempo, mas do nosso tempo. Vivemos num tempo de muitas informações. Fatos que ocorrem a cada momento são notificados em tempo real em vários canais. Nesses excessos causam-me uma sensação estranha de paralisia da escrita, pois os acontecimentos parecem ficar obsoletos ao passar de dois ou três dias. Escrever diante dessa urgência é um paradoxo. Por um lado, há a escritora que deseja escrever uma crônica e por outro surge a interrogação – para quê? Já está debulhado e muitas expressões que poderiam ser suas também? Vivemos nesse bombardeio da mídia jornalística e de internautas com vigorosas publicações. Prefiro ficar com o meu tempo de escrita e com minhas singelas linhas e emoções. E é com elas vivas que escrevo sobre nossa imensurável perda cultural no mês de novembro de 2022. Estamos mais empobrecidos sem Gal Costa, Erasmo Carlos e Pablo Milanés. 

Um trio que se elevou aos céus dos cantos. Gal Costa puxa a fila, mas como seu brilho não era para ofuscar os outros, dá a mão para Erasmo Carlos e Pablo. Gal Costa e Erasmo Carlos adentram cantando a música “Detalhes” que eternizou na doçura de suas vozes, ainda jovens, e em parceria. Pablo Milanés cantor e compositor cubano escolheu a lendária “Yolanda”. E, daqui da terra, escutamos tão saudosos quanto seu parceiro famoso – Chico Buarque de Holanda.

Músicas que percorreram minha infância, adolescência e vida adulta. Nos embalos do Tremendão, da Vaca Profana e Yolanda a vida segue na Terra. Quando olharmos para o céu, veremos mais estrelas a brilhar. Será que com luzes mais fortes? Afinal para que servem as estrelas senão para iluminar a vida? E, é um deleite quando elas vêm em forma de vozes e carregadas de memórias especiais para chamar de “nosso tempo”. Para que serve o tempo se não para ser nosso?

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