Novembro azul e a saúde masculina: por que o homem não vai ao médico?

Daniela Piroli Cabral
contato@dnaielapiroli.com.br

(Texto original publicado em 07 de novembro de 2018)

O mês de Novembro começou e junto com ele várias ações de sensibilização para o cuidado relacionado à saúde masculina vêm sendo veiculadas na mídia,  especificamente em relação à importância de se fazer o diagnóstico precoce do câncer de próstata.

Mas por que, diferentemente das mulheres, os homens têm mais dificuldade de ir ao médico? Por que eles demoram mais a reconhecer que podem estar com algum problema? Por que relutam em pedir ajuda?

A cultura e o tipo de educação que temos em nossa sociedade, ainda machista, ajuda a responder, pelo menos em parte, a estas questões.

Desde pequenos, os meninos são ensinados que “homem não chora”, que demonstrar emoções é sinal de fraqueza, que esconder vulnerabilidades e sofrer calado é a melhor forma de “ser homem”. Assisti, recentemente, a um documentário chamado “The mask you live in” que tenho recomendado a todos os meus pacientes do sexo masculino. A produção explicita bem como o estereótipo masculino é criado na infância e na adolescência e reforçado por rituais e sanções sociais, nas esferas familiares, escolares e do trabalho.

O documentário problematiza que, historicamente, a criação de uma identidade “masculina” passou por três principais questões:

(1) pressão para se ter um porte “atlético”, associando masculinidade à força física;

(2) sucesso socioeconômico, associando masculinidade ao status financeiro e patrimonial e reforçando o papel de “provedor”

(3) conquistas sexuais, associando masculinidade à quantidade de parceiras que o homem conseguiria conquistar, mas não, necessariamente, manter.

Foto: Divulgação

Essas três referências comportamentais que balizam até nos dias de hoje uma identidade “masculina” funcionam como uma “máscara” à qual os homens precisam responder, sendo um pobre repertório identitário que não abrange toda a diversidade sobre o masculino e que,  muitas vezes, é pouco humano e pouco autêntico.

Há uma enorme pressão para que os homens rejeitem tudo o que possa ser uma referência ao “feminino”, tais como sensibilidade, criatividade, sociabilidade, comunicação e empatia. Além disso, tal contexto predispõe mais a população masculina a demonstrações de agressividade, de violência e ao empobrecimeto social.

E, voltando ao Novembro azul, a consulta médica e a realização do exame de toque, que seriam fundamentais para um diagnóstico precoce do câncer de próstata, ainda permanecem como tabus para muitos os homens.

Para saber mais:

  • The mask you live in”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=I1OI9B0VSlA&t=3622s
  • Site do ministério da saúde, disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2840-novembro-azul-2018-mes-mundial-de-combate-ao-cancer-de-prostata-seja-heroi-da-sua-saude
Daniela Piroli Cabral

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