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Pra que a esperança sobreviva

Daniela Mata Machado

“Você não derrota um inimigo tirando sua coragem. Você o derrota tirando sua esperança.”

Eu encontrei a frase acima atribuída a Adolf Hitler, mas como já achei coisas estranhíssimas atribuídas a Clarice Lispector ou a Fernando Pessoa, não posso garantir que o ditador alemão tenha mesmo dito algo assim. Ouso dizer que provavelmente não disse. Mas isso não importa porque, ainda que não tenha dito, foi o que aparentemente tentou fazer. E a verdade é que a nossa coragem vale muito pouco se permitirmos que a nossa esperança nos seja tirada. Portanto, queridos, neste momento eu gostaria que até nos permitíssemos o medo, mas que jamais nos autorizássemos a desesperança.

A gente esperava uma grande alegria e ganhou apenas um certo alívio, eu sei. E alívio ainda é muito pouco para quem já chegou a conhecer a alegria. Mas o pós-guerra é assim e a maioria de nós nunca havia vivido outro antes deste. Quando os tanques partem e os tiros cessam é que a gente encontra tempo para contar os mortos. E pelo caminho ainda descobre que muitos, por ignorância, insanidade ou afeição à violência – sim, isso existe em número maior do que gostaríamos – seguem agarrados às armas e empenhados em não deixar que a guerra termine. Sim, queridos, é exaustivo. E é neste momento que corremos o risco de deixar a esperança morrer.

Tudo bem ter medo. Talvez ele sempre nos acompanhe e possamos até tomar um chá, ou um café, com esse velho amigo que, durante a pandemia, serviu de escudo para nos proteger da doença. Talvez um dia possamos rir da maneira como nos agarramos e nos afeiçoamos a ele e, finalmente, possamos permitir que ele se desgrude da nossa pele e possa ser pendurado num cabide, atrás da porta, somente para o caso de um perigo iminente.

Mas, por gentileza, não percamos a esperança. É ela, mais que a coragem, que nos mantém vivos. Aos ignorantes, se houver nos restado um pouco de amor e paciência, podemos tentar explicar que o sol ainda vai brilhar, e talvez mais tarde eles queiram dançar conosco a valsa dos que finalmente celebram a cicatrização das suas feridas. Aos insanos, podemos desejar a cura dessa grande doença que a guerra traz. E aos que se afeiçoaram verdadeiramente à violência creio que seja necessário ensinar que a maldade não pode persistir e que eles precisarão ser contidos para que a dor não se perpetue. Seus atos precisarão ser nomeados e exemplificados como as atitudes que não serão mais toleradas. Para que a esperança sobreviva. Para que o futuro se construa em outras bases. Para que a gente finalmente avance do alívio para a celebração da alegria.

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