Já posso avistar o apocalipse logo ali, a um sábado de distância de nós: o domingo. É quando o Brasil decerto enfiará goela abaixo alguns miligramas de cianeto na forma de dois patos no lago Paranoá — o temível, o abominável o execrável 22. Vinte e dois de Bolsonaro, de retrocesso, de ignorância, de planeta e cabeças quadradas, de desmatamento, de miséria, de fogo, de tempestades. Fim de mundo.
Ora, não me venha com essa de que o amor prevalecerá. Não irá. Não se vislumbra otimismo nesse utopismo distópico conhecido como o Brasil de 22. Já concebemos a escuridão, a desesperança, a tragédia. Agora, queremos saber: onde assinamos? Somos um povo majoritariamente quadrado, conservador, intolerante. Em nosso DNA, está gravado mais de meio milênio de doutrinação religiosa europeia, o que define as nossas escolhas, que são sempre erradas. Desta vez, não será diferente.
O brasileiro gostou do que viu nos últimos quatro anos. Agora, quer mais. Vai escolher 22, em 30 de outubro de 2022, que já é Halloween no Brasil. Você dirá: mas as pesquisas mostram que o amor prevalecerá. Eu direi: a experiência mostra exatamente o contrário. Vide o primeiro turno, em que as pesquisas constataram que são apenas pesquisas e nada mais do que pesquisas.
É duro o que virá, mas nada que não se possa superar com exílios, refúgios e asilos políticos. E mortes e prisões ilegais e desaparecimentos. Já vimos esse filme em 1964, mas também já assistimos à ascensão social, a erradicação da fome, a distribuição de renda, e extirpamos isso tudo da memória coletiva ao submeter nossos cérebros idiotas a uma lavagem a jato.
Domingo, duas escolhas se imporão à frente do eleitor, homens e mulheres brasileiros, protetores da tradicional família brasileira, cristãos acima de tudo, gente do bem, mas que enchem a cara todos os dias, espalham notícias falsas no WhatsApp, querem que os pobres continuem pobres para lhes servirem e, no fundo da alma, querem que você se foda.
Resultado: 22.