Silvia Ribeiro
Certa vez, descobri que escrever era a minha salvação, e ainda menina, deixei que o lápis e o papel falassem por mim, então resolvi colocar a boca no mundo, soltar os bichos internos, e libertar todas as amarras que duelavam com os meus pés.
Daquele dia em diante, nenhum nó na garganta se fez de bom moço. Falei do que vivi e do que não vivi também.
Contei sobre paixões tórridas e com puxões de cabelo, amores passionais no estilo drama mexicano, e os impertinentes amassos apaixonados envoltos em toques e gemidos, ilustrando um prazer que qualquer coração em sã consciência gostaria de fazer parte.
Me lembrei também daqueles felizes para sempre que não saem da tela do cinema e vivem se divertindo com a nossa falta de traquejo em torná-los reais, e com a morosidade do dia a dia que à todo custo quer calar a nossa voz. E subitamente me transportei para um cenário adornado com histórias água com açúcar e brilho nos olhos, bem ao modelito “Romeu e Julieta.
Num dado momento me sentindo sendo arguida pelas minhas inquietações um rio de lágrimas se despejaram bem à minha frente apresentando a ingenuidade e a dor que paira entre as imagens de “A Culpa é das Estrelas”.
Abrindo um parêntese, não poderia deixar de citar a série “Suits”, na qual um dos protagonistas esbanja beleza, sensualidade, e um sorriso sexy que com certeza arranca de dentro de todas nós mulheres, ou a maior parte delas, aquela formidável crença nos príncipes encantados. E nos meus mais singelos desvarios me pego desejando ser a sua “Dona”, nome esse do seu par romântico.
A verdade é que sempre gostei desses romances que a gente vê e sente um frio na espinha pulando os muros que separam os nossos sonhos da realidade. Eles me parecem uma gangorra que nos leva para um lado e outro fazendo com que as brutalidades da vida fiquem de lado e o tempo se revele de um jeito mais pueril.
E pra aumentar a lista de deliciosos melodramas, não poderia faltar aquelas músicas bem dor de cotovelo (brega) que a gente escuta e depois se pergunta como pôde ouvir aquilo. Aliás, a gente não podia.
O meu lápis já falou de muitas coisas, inclusive do que eu não gostaria de ter dito, e por diversas vezes fui protagonista e coadjuvante das minhas narrativas, até que percebi que as minhas buscas eram sedentárias e não se entendiam, causando um estremecimento em tudo aquilo que eu queria escrever apenas pra mim mesma.
Hoje, vejo histórias descabidas que entraram nos meus sentimentos sem pedir licença e saíram batendo pernas por aí entre uma esquina e outra terminando a noite numa mesa de bar. Mas quando isso acontece faço um brinde e me divirto com um outro tipo de tira-gosto.
E pra não deixar de fora os famosos “vamos dar um tempo” recordo juras eternas que ao primeiro sinal de intensidade se sentiram nocauteadas e flertaram com o adeus, e a única maneira que encontro de exorcizar todas essas desventuranças é esbanjar um sorriso largo no rosto e debochar do espelho sem medo de dizer que mudei o roteiro.
Porém, as lembranças me dão o suficiente pra me fazer sentir saudades.
E assim vou indo, falando de mim, de alguém, ou as vezes, de ninguém.
Essa louca sou eu.
Falar de sentimentos, emoções, amor e ódio é um universo inesgotável, pra reforçar ainda mais o campo fértil, que os escritores tem para soltar a imaginação e exercitar a criatividade.
Por outro lado , trabalhar com os sentimentos é bom ter cautela, pois não somos imunes a eles, não existe neutralidade. Do mesmo jeito que as palavras, tão bem trabalhadas tocam os leitores, com certeza elas causam um reboliço em seus criadores.
É um universo complexo.
Lindo D+++++++ Silvia….