Um ratinho no Mercado Central

Silvia Ribeiro

Um dia desses, fazendo compras no Mercado Central numa dessas lojas de frios, chegou uma senhora acompanhada de duas crianças e perguntou se havia retalhos (sobras).

A vendedora muito gentil, porém um tanto constrangida respondeu que não, e a senhora seguiu.

E de repente uma das crianças aparentando uns cinco anos de idade voltou, parou bem diante do queijo que estava exposto e arrancou um pedaço.

Os seus olhos eram a personificação da alegria e me tirou um sorriso.

Não havia “infração” naquele gesto, tamanha a inocência e a pureza daquelas mãozinhas miúdas e ainda despreparadas para a vida.

E por alguns instantes eu me virei tentando alcançar aquela criaturinha no intento de realizar aquele desejo, mas ele já havia se perdido na multidão.

Naquele dia, eu fiquei pensando em quantos queijos haviam passado pela minha mesa. A maioria deles sem nenhuma relevância, apenas cumprindo o papel de um alimento que está ali pra saciar um capricho ou manter o nosso corpo em dia.

Esta história nunca saiu de dentro de mim, e todas as vezes que eu me lembro torço pra que aquele menino e tantos outros por aí possam realizar as suas vontades sem precisar cometer uma travessura.

Tentando tirar proveito daquele acontecimento em prol da minha evolução me dei ao luxo de fazer algumas considerações.

Será que aquele menino só quis me ensinar como é fácil fazer alguém feliz, ou será que ele quis me mostrar como é gostoso um pedaço de queijo?

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16 comentários sobre “Um ratinho no Mercado Central

  1. Nossa!!Bela reflexão!!A vida nos ensina insistentemente todos os dias a pensar e observar atitudes tão simples e ao mesmo tempo muito valorosas! Lindo texto, parabéns

  2. Linda história Silvia. O universo e suas tramas…
    Acho que vc captou bem a mensagem; é fácil fazer alguém feliz, principalmente se for criança carente.

  3. Muito bom saber que o sorriso de uma criança, que se satisfez na simplicidade de um pedaço de queijo adquirido de forma pueril, sem maldade alguma, te fez sorrir, pois a pureza, nos deixa feliz, daí a pergunta, por quê complicamos tanto? Por que deixamos a nossa criança no passado tirando ela de dentro de nós? Por quê precisamos ver maldade em tudo?
    Uma criança se satisfez e você sorriu, a criança em você foi despertada pela singeleza deste momento, e são exatamente nestes momentos que descobrimos que a criança dentro de nós ainda sorri e o mundo tem salvação.
    Abraço carinhoso, obrigado pelo texto.

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