Taís Civitarese
Respiro fundo, mas me falta ar. Faz dias que venho respirando assim. Parece que o peito não se enche por completo. O ar não vai até o fundo para oxigenar inteiramente meu pulmões. Por mais que eu puxe, não me basta. Sinto que me falta ar. Desabotoo o fecho da calça, alargo a gola da blusa. Tento abrir caminho.
Tenho medo de me mover e acontecer o pior. Venho respirando baixo, respirando leve. Não posso me agitar demais, assim adio o derradeiro momento. Se eu ficar bem quieta e imóvel, talvez nada aconteça. Se eu respirar bem fraco com o mínimo de ar possível, talvez meu tio viva. Se eu ficar parada e não sair de casa, talvez engane a passagem do tempo. Venho respirando de um jeito esquisito porque tenho medo. O momento atual me apavora. A iminência da perda. A espera por notícias. A angústia dos meus primos e tias. Tudo isso me aflige. O ar não entra. O ar entala na borda das narinas e não penetra. O ar me falta. Há algo no ar que me falta. Minha família enfrentará sua segunda perda em três anos. É difícil. Pessoas amadas sofrendo. Eu não consigo puxar o ar. Por mais que me esforce. Por mais que tenha me esforçado, a vida escapa. Não há medicina. Não há prece. Não há milagre. Não há nada além da fatalidade da vida. A atmosfera está densa, permeada de luto. O ar está pesado e eu não consigo respirar direito.
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