A vida e o tempo contemporâneo, a cada novo dia, estão se tornando mais ásperos. Não bastasse a pandemia, que trouxe essa insegurança ao mundo, ainda temos de conviver com frágeis, manipulados e frenéticos amigos de décadas que se alimentam do ódio e de interesses de grupos poderosos. Fico num misto de desprezo e piedade por quem não se ocupa, ainda que por poucos minutos, numa jornada diária de refletir sobre o que lê, ouve e assiste. Enfim!
Não diria que estou deprimido, nem tanto assim, mas desolado com muitas pessoas que sempre tive carinho e consideração. Nos últimos dias fui atacado, lá no fundo do meu inconsciente – naquele chip da memória que estava desativado – numa deliciosa nostalgia. Desde a fazenda do meu pai, onde passava férias andando a cavalo e “campeando” gado (animal mesmo) ao lado daquele meu ídolo.
Durante o período escolar, as aulas no Delfim Moreira (primário) e Dom Bosco (ginasial), com tempo ainda para “peladas” na rua, jogos de “bolinha de gude” no jardim da Estação ou “amarelinha” na Praça Governador Valadares. Tudo isso lá em Araxá. Ainda pega-pega, cabra-cega, cinco-marias, bilboquê, sobra um na cadeira e tantos outros. Tudo isso num ambiente saudável e com a felicidade transbordando entre amigas e amigos.
Muitas dessas pessoas queridas, prematuramente, já nos deixaram ao longo dos tempos. Nem vou mencionar nomes, mas enquanto redigia contei quase duas dezenas, o que aprofunda ainda mais o suspiro dessa saudade. Os namoros – que delícia era sonhar com aquela amiga que agradava e imaginar um futuro que nunca aconteceu. A maioria tomou rumo e consciência diferentes.
Já estou com mais de 60 anos, mas ainda me apego muito no que ouvi por volta dos meus 25 – numa rádio local – quando estava sendo proclamado vereador eleito, que o “Eduardo era o mesmo dos bancos do Delfim Moreira”. Confesso que tive uma das sensações mais gostosas da minha vida. Senti orgulho dessa manifestação da dona da rádio e professora quando estudei no grupo. E, confesso que mudo conceitos e opiniões, mas sigo com a mesma formação que sempre me norteou desde essa saudosa infância e juventude.
Entre tudo que pude experimentar nessa atual passagem pela Terra, não me afasto da conduta de quem tem consciência que estamos aqui para nos aprimorar e um dia retornar noutro corpo. Quero dizer, estamos aqui buscando nos aperfeiçoar em direção à perfeição. Os princípios básicos disso são a solidariedade, fraternidade e – consequentemente – preocupação e interesse social.
Pois que, de tempos para cá, estamos convivendo com o antagonismo a todos esses princípios trazidos a Terra – dois mil anos atrás – por Jesus e seus discípulos em nome do Pai Criador. Ganância financeira, ódio de classes – notadamente pelos mais poderosos –, e como consequência disso as guerras entre nações e disputas domésticas que geram milhões de mortes pelo planeta.
A epidemia faz parte desse frenesi. Alguns, ao invés de buscar a cura contra o mal que aflige a humanidade, optam por discursos com viés imbecil e ideológico, enquanto milhares, milhões de pessoas morrem no Brasil e no mundo. A falta de equilíbrio de quem deveria dar exemplo, coloca em risco o futuro de todos nós.
Imagina um presidente da República – em tom de discurso eleitoral –, mandar pessoas à “PQP” e “enfiar no r…”. Não era isso que queria para o final de vida, que triste pesadelo. A liturgia do cargo é frequentemente desrespeitada pela maior (?) “autoridade” do Brasil. Prefiro brincar de pega-pega, amarelinha, bola de gude e jogar no gol do time da rua. Mas meu sonho mesmo era ser artilheiro no Galo, só que sempre fui péssimo. Ninguém me escolhia no “par ou ímpar” para formar equipe, mas era muito mais feliz que hoje.
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