Nada tão denso, que mereça uma profunda admiração e dedicação consciente do ser, tem acontecido ultimamente. Tudo tem sido superficial e pela metade, sob aviso prévio e sem surpresas. Cada coisa em seu lugar e nada sem encaixe. Nada mais nos pega desprevenidos, e até as tristezas, que pretendiam chegar sem serem anunciadas, parecem se moldar perfeitamente ao nosso momento.
As pequenas esperanças a que nos agarramos, como a do ouro olímpico da Seleção Feminina de Vôlei, são levadas de nós como um apagão. Parece um pesadelo acontecendo em câmera lenta, em um filme cujo o roteiro é ao mesmo tempo tenebroso e sádico.
Continuamente, pessoas que fazem figuração junto a nós nessa grande novela chamada de vida, persistem em achar que está tudo bem. Esses iluminados seguem lutando contra um inimigo invisível que – sugerem – quer nos tirar todas as liberdades conseguidas em anos de luta. Mal sabem que a tal liberdade significa muitas coisas diferentes, e nenhuma delas parece conversar entre si.
Mas como disse no início, nada tão denso tem acontecido. O caos instalado parece ter se colocado como uma sinfonia, que a muito tocada em alto e bom tom, se tornara uma contínua só nota. O mesmo movimento do maestro, que parado como uma estátua admirando seu próprio reflexo, incorpora o lugar de Narciso, enquanto os músicos, surdos pelo estrondo das notas, seguem tentando se fazerem ouvidos separadamente, cada um dando o melhor de si em seu instrumento e nenhum percebendo o outro por tempo o suficiente para gritar: bravo!
Foto: Caravaggio
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