Tais Civitarese
Tive um professor no colégio que era muito engraçado. Divertido, aproveitava as aulas para fazer reflexões profundas sobre a vida e nos instigar a pensar. Tinha um jeito bem-humorado de tratar os assuntos difíceis e todos o admiravam muito. Porém, algumas vezes, ele ignorava perguntas dos alunos, sobretudo dos mais tímidos. Quando o interrompiam com dúvidas, ele seguia sua aula-show sem se preocupar em atendê-los. Aparentemente, isso acontecia quando os questionamentos não iriam dar ibope ou servir de gancho para suas piadas.
Isso me incomodava um pouco. Parece que era aí, nesse ponto, em que víamos o seu lado mais humano e menos artista.
Por outro lado, na formação médica, tive uma excelente professora. Era muito séria, chique e respeitada. Ótima profissional, técnica e entitulada. Falava com propriedade sobre diversas clínicas, discorria frequentemente sobre os artigos mais frescos, sabia a fisiologia das doenças de trás para frente. Sua competência chegava a intimidar. Até que a víamos diante de um paciente. Era nessas horas que ela mais brilhava. Ela os acolhia com comovente carinho, afeto e sobretudo, humanidade.
Nos dois casos, o caráter “humano” provocava destaque nas duas pessoas. No primeiro deles, para um lado ruim e, no segundo, positivamente.
A mesma palavra pode ser usada para coisas opostas. Porque afinal, somos assim mesmo. Ambíguos e duais. Complexos. “Humano” quer dizer muita coisa…
Mesmo que sejamos ou aparentemos ser sobrehumanos, frequentemente, é nossa humanidade que nos denuncia. Ela nos desmascara em todas as formas. Quer isso seja sinônimo de ter um dom especial, quer seja demonstrativo de nossas fraquezas.