Silvia Ribeiro

Sempre achei que o segredo da felicidade é essa falta de garantias que ela nos oferece, e o seu jeito de empurrar o lúdico pra dentro da gente, sem sequer perguntar o que vamos fazer com ele. Na maioria das vezes não sabemos mesmo.

A sua particularidade em chegar e sair deixa as minhas vivências falastronas, e me faz pular a janela pra ver a vida lá fora. Esse é o melhor jeito que eu encontrei de não haver histórias que eu ainda não provei tentando ir embora.

Sinto como se ela passasse as mãos pelos meus cabelos, feito alguém que adula um bem-querer importante, e daí a poucos segundos saisse batendo a porta sem a menor cerimônia.

Confesso que fico com raiva quando ela deixa de se importar comigo. Me abandona cheia de conflitos.e sem entender o que realmente eu posso sentir.

Cismo quando ela expõe as suas adultices ansiando por ser gente grande, tentando tirar o doce das mãos dessa menina moleca que me alcança por dentro.

Magoa os meus desejos e abre espaço para uma saudade entontecida que em mim respira, como se isso fosse um símbolo dos seus desaforos.

Em contrapartida me derreto quando ela me rouba sorrisos, me dá colo sem que eu precise pedir. Me abraça gostoso e empolga o meu coração, me dispondo papel e lápis pra que eu possa saber mais de mim sem os barulhos do tempo.

Em alguns dias eu aposto na sua chegada triunfal como lhe é habitual. Com os seus anseios exacerbados, a sua falta de compostura, e as suas frases de efeito mudando todos os meus paradoxos.

Em outros já acho que ela está fabricando silêncios, ou arrumando a casa onde mora, no intuito de precisar se encontrar nas suas exaustas caminhadas.

Mas como nada cai do céu acordo cedo e vou ver por onde ela anda.

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