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A carta que faltava

Daniela Piroli Cabral
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Te escrevo hoje para dizer que é muito bom ter te reencontrado. Por vezes, nas turbulências e tropeços da vida, acreditei que nunca mais te veria. Acreditei que um reencontro nosso era mesmo impossível. Por outras vezes, imaginei a gente junto de novo mas, na minha fantasia, talvez fosse displicente demais, efêmero demais, talvez instável demais, e que com certeza sofreríamos de novo.

Mas dessa vez não foi assim. Te encontrei quando eu não estava procurando. Te achei quando caminhava distraída, olhando para o azul do céu. Nunca te tinha visto tão belo. Você veio com seu coração doce e seus olhos brilhantes. Seu olhar refletia beleza de dentro e de fora e eu, em plena metamorfose e não sem cautela, pude amar de novo. 

E olha, como é bom não estar só. Como é bom ter alguém para compartilhar o cotidiano e a minha solidão. Como é bom conversar em silêncio, sem palavras. Como é bom saber a linguagem dos olhares que se olham e confiam. 

Outro dia ouvi alguém dizer que a atenção é a forma mais genuína de generosidade. Como eu gosto da sua atenção para mim. Com você, agora eu sei existir. Eu me guardo, eu evaporo e posso desaparecer. Com você, posso ser séria ou triste. Posso ser engraçada. Posso ser diferente. Posso ser normal e autêntica. Posso ser eu mesma, o que quer que isso signifique.

Queria que você soubesse, nessas linhas, que todas as vezes que as nossas vidas se cruzaram, você me ensinou muito sobre mim mesma. Todas as vezes, eu me desconstruí, me virei do avesso, eu mergulhei, me deixei afetar. Com você, construí castelos de areia e de espuma. Por vezes, acreditei nas suas falsas promessas, sustentadas na sua ingênua maturidade.

Por vezes, me frustrei, fui imatura, me equivoquei, não soube esperar o tempo. Por outras, mesmo juntos, confesso que duvidei de você e da verdade daquilo que vivíamos juntos. Mas sei que em todas elas, nós nos precisávamos.

Nas suas ausências, te procurei loucamente, desesperadamente, como forma de não enlouquecer. Caminhei sem rumo nas ruas da cidade e nas constelações, querendo identificar sinais de você em rostos banais e nos reflexos das estrelas.

Por vezes, me achava velha para fazer joguinhos, para não poder dar o braço a torcer. Com você, aprendi a calma e a coragem de voltar atrás, de mudar de opinião. Aprendi que alguma discussão é necessária, mas em regime de exceção. Por vezes, vibrei sozinha, acreditando que, num movimento de autonomia e independência, você já fazia parte de mim. Mas como me fazia falta experimentar o sexo com amor e sem pudor. O suor, a saliva, o sangue e o sal. O toque e a secreção.

Com você eu fiz muitas aprendizagens sobre mim mesma e sobre o mundo. Com você posso amar sem medo de não ser livre. Com você sei que o amor pode ser, ao mesmo tempo, repetição e descoberta. Com você eu aprendi que, no fim das contas, a única segurança que a gente precisa é a segurança afetiva, aquela que a gente percebe na intimidade, no carinho, no cuidado. E isso basta.

A verdade é que sempre gostei de ter você por perto, sentir o seu calor e a sensação de coração molhado que você me proporciona. Sempre gostei de ter companhia, de compartilhar a vida e você sempre me proporcionou alegrias.

Por isso eu te digo, não precisa hesitar. Temos afeto e sabedoria suficientes para seguir. Podemos aprender a falar, a escutar os silêncios, podemos fazer viagens fantásticas sem mesmo sair do lugar. Com você aprendi a reconhecer tesouros, o que tem valor. 

O amor é uma pérola, é ouro em pó. Se você encontrou um, preserve, guarde como jóia rara.

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