Daniela Mata Machado
“Nascemos originais, morremos cópias.”
(Carl Gustav Jung)
Quando eu era pequena, bem pequena, o silêncio e o tempo desperdiçado no quintal eram sinônimo de horas bem aproveitadas. O excesso de interações, as frases feitas para se usar em cada ocasião e as regras de comportamento ensinadas à exaustão em todos os lugares nunca fizeram sentido para mim. Mas aprendi a repetí-las para não ter problemas. São coisas bem importantes para os outros e eles parecem se ofender terrivelmente se você ousa existir de uma maneira inadequada.
Por que devo encontrar pessoas quando prefiro estar só? “Porque não se deve estar só. E porque não é muito educado recusar tantos convites.” Ok, vamos encontrar pessoas então. Por que não posso me deitar na terra e ficar olhando as nuvens enquanto as pessoas bebem e conversam sobre a guerra? “Porque seria infantil”. Ok, não sejamos infantis. Por que não posso ser infantil? “Ora, não seja ridícula! Você precisa fazer o que se espera de alguém da sua idade.” Ok, não sejamos ridículos também.
“Nascemos originais, morremos cópias.”
Sempre tive a sensação de que as minhas originalidades não eram muito bem quistas nos meios sociais. E de que era bastante importante para a sobrevida no planeta que a gente fosse aceito nesses lugares. Mas fracasso miseravelmente em me tornar uma cópia do que parece razoável. Pareço sempre uma cópia malfeita, cujo rascunho fica aparecendo por baixo.
Sento-me à mesa, mas, sem perceber, cruzo minhas pernas sobre o assento da cadeira. Ensaio as palavras a serem ditas, mas sempre escapam coisas que não cabiam naquele lugar. Escondo meus anseios, mas eles parecem exalar pelos poros e, de repente, gritam.
“Tudo aquilo a que você resiste, persiste.”
É outra frase de Jung a me atazanar as ideias. Quer dizer que estou condenada a reviver tantas e tantas vezes todas as situações das quais tentei fugir apenas para me tornar uma cópia que não incomodasse tanto quanto minha originalidade inadequada? Sigo copiando. Atrapalhada. Confusa. Mas de vez em quando tenho um vislumbre do ser original, anterior às cópias. E me dá vontade de correr para o quintal que já não há. E entrar em contato profundamente silencioso com uma trilha de formigas só para entender de onde elas vêm e para onde vão. Minha originalidade é simplória e despretensiosa. Mas é nela que repouso.