Sandra Belchiolina
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Desde os tempos de Freud, criador da psicanálise, a formação de um psicanalista é desvinculada de formações acadêmicas tradicionais. Ela se âncora no tripé: análise do sujeito, estudo em instituições reconhecidas pela comunidade analítica e na supervisão de casos quando o analista inicia seus atendimentos. A forma de tratamento do inconsciente, ou seja, do sujeito e seu sintomas sofre ataques de tentativas constantes de desvirtuação. No Brasil, recentemente, a oferta de um curso de graduação em psicanálise reconhecido pelo MEC, tornou-se uma preocupação das escolas de formação psicanalítica, pois o mesmo pode confundir àqueles que se interessam por ela.
Sabe-se que o significante da psicanálise está relacionado a ética, ao estudo e daí vem a sua força. O interesse em ofertá-la, que adveio de um grupo de investidores que lançaram no mercado uma graduação fake, está relacionado a seu significante? Oferta-se um curso que se desvia das propostas de Freud, Lacan e outras escolas que zelam pela transmissão desse conhecimento. Por isso a necessidade de esclarecimento ao público.
Tornar-se analista é um processo que começa na análise pessoal. Essa não tem tempo determinado, mas é mais longa do que um período de graduação. Um sujeito pode iniciá-la com a pretensão de ser analista e durante seu percurso descobrir que esse não é seu desejo. O contrário também é comum, a pessoa busca um atendimento psicanalítico devido sua a angustia e no divã processam-se modificações no seu ser que culminam no desejo do analista, ou seja, algo novo surgiu e ela quer continuar. Oferece sua escuta para, também, tratar o inconsciente daqueles que o procuram em transferência. Assim, é necessário o tratamento do inconsciente daquele que se propõem a tal façanha e ela não é tão simples como adquirir um diploma.
Os textos e saberes que a psicanálise adquiriu ao longo dos anos está nos cursos de psicologia, psiquiatria e muitos outros de estrutura acadêmica tradicional. Eles circulam por diversas áreas em graduações e pós-graduações sendo uma forma de transferência de conhecimento, o que não chega a ser uma formação psicanalítica. Essa acontece nas escolas reconhecidas. Elas oferecem estudos que compreendem os cartéis – estudos de um tema escolhido por quatro pessoas e mais um, esse é aquele que já tem sua formação mais avançada; seminários e leituras com temas agendados por semestre, jornadas de trabalhos, encontros e congressos regionais, nacionais e internacionais.
O que podemos concluir sobre esses cursos irregulares de psicanálise é que ela se mantém no desejo dos sujeitos e que a luta é para que sua ética permaneça. Sua formação se traduz em um longo processo no divã e estudos. O analista autorizará si mesmo quando chegar o momento de acolher cada sujeito com sua singularidade. Isso não acontece num “estalar dos dedos” e nem buscando um diploma. Fica a sugestão àqueles que desejarem embarcar nessa jornada o cuidado e recorrerem as referências para não caírem em engodos.