Eduardo de Ávila
Refratário que sou com todas essas ferramentas e avanços tecnológicos, assumo minha condição de crítico dessa doença que tanto mal faz a todos nós, usuários ou não destes recursos. Sou um verdadeiro jurássico. Confessamente resistente, porém usuário de parte dessa parafernália que – ao que sinto – tem me feito mais mal que os benefícios e agilidade que proporciona.
A todo dia sou testado. Desde o uso de aplicativos de movimentação bancária, solicitação de transporte, sites informativos, trajetos urbanos, um tanto de facilitações que deixam saudade do uso de cheques, taxi e/ou ônibus urbano, jornal impresso e até errar o caminho a ser feito. E as redes (anti) sociais, como viver sem elas, no meu caso até para divulgação deste blog e do outro relacionado ao meu time do coração.
Tem dias que me flagro divagando sobre romper com tudo isso, até mesmo voltar a usar o telefone fixo, já que o celular tem me incomodado por ser tão invasivo. Não ligo para ninguém sem antes perguntar se a pessoa está podendo atender a ligação. E daí questiono, pois como pode existir uma ferramenta que facilita até mesmo querer ser prudente. Antes a gente ligava na casa ou no trabalho e deixava recado. Tudo agora é imediato.
Neste fim de semana experimentei o lado bom, que não existiria, se não fosse a versão ruim disso tudo. Solicitei um carro por aplicativo. Dentro dele e já a caminho do meu destino, começam a chegar mensagens e – seguramente – respondia a três assuntos diferentes pensando no almoço já que a fome era iminente e até mesmo eminente.
No afã de chegar logo ao destino, já tirei da carteira o valor a ser pago e, como a chuva começou a cair, o gentil motorista entrou em lugar onde me poupou de me molhar. Agradecido, desci do carro e caminhei em direção ao restaurante, quando percebi que a minha carteira tinha ficado dentro do carro do desconhecido motorista de aplicativo. Levei uns dez minutos para entender como faria para tentar localizar e salvar tudo que estava lá dentro.
Pois que cada minuto desse parecia uma hora, até que – errando mais que acertando nas funções daquele monstrengo de celular e aplicativo – achei o sujeito que já estava noutra viagem e bem longe do local. Aliviado, tenso e – o pior – com fome, aguardei por uma hora o retorno do profissional que me cobrou o dobro ou até mais para se deslocar e me levar o perdido e achado.
Minha pressão que já não é lá tão benta, até que resistiu bem, mas a fome causou uma boa dor de cabeça. E até tremedeira, não sei se por falta de alimentação ou stress nervoso. Até hoje ainda estou um tanto abalado. A cabeça, que já anda lenta, somada ao desejo de aposentar – já se vão 45 anos de contribuição previdenciária –, aliada ao fato de não poder ainda me dar a esse privilégio. A verdade é que já estou rateando, oferecendo minha resistência que a cada momento se mostra mais fragilizada. Enfim, sobre essa coisa tecnológica, ao mesmo tempo que xinguei, pois foi por seu uso no trajeto que cometi o vacilo, também ela me salvou quando consegui contatar o motorista. Preferia, na verdade, não precisar de nada disso.
Um dia antes, aí vai o lado rabugento que não escondo, lá no Horto vendo o jogo do meu Galo, fiquei estarrecido com alguns torcedores dessa geração tecnológica. Os caras, com um estádio ocupado com pouco mais de 25% de sua capacidade plena, assistem ao jogo de pé em cima das cadeiras que deveriam assentar. Como consequência disso, os torcedores atrás são obrigados a fazer o mesmo. Ou seja, ninguém fica acomodado. Haja coluna!
Pior, alguns deles (muitos na verdade) de costas para o gramado fazendo self com o campo de jogo e os jogadores de pano de fundo. São fotos e filmagens e o jogo comendo solto. Um deles, tinha de ser bem à minha frente, quando parava de fotografar ou filmar, virava para o gramado e soltava berros reclamando de jogador e do treinador. Nem sabia o que estava acontecendo, pois o time jogou e ganhou bem, mas o cara só queria era extravasar. Que que essa coisa arrumou? O pseudo torcedor vai ao campo pra fazer imagens para o álbum e postar na sua rede social, não para ver e incentivar o time.
Depois dessa pequena amostragem vivenciada, fui relaxar numa cafeteria que frequento sempre. Eis que chega um casal – típico dos dias atuais – com uma filha pré adolescente. Sentam na mesa ao lado e, mãe e filha, fazem o pedido até sem olhar no rosto da atendente. Ficam os três mudos na mesa, com o pai naquele olhar de paisagem, enquanto as duas seguem com o telefone em mãos conversando ou lendo ou se comunicando – quem sabe – com o além vida. Impressionante. Permaneceram por cerca de meia hora, sem trocar uma única palavra. Que triste!
Saudade dos tempos que não existia celular, internet, redes sociais e a gente era feliz. E sou usuário de tudo isso, inconformado, mas não posso ficar fora desse processo (in) ou evolutivo. Mas uma certeza tenho, vou no estádio pra ver e torcer para o meu time e não para fazer pose fotográfica. Se achei a carteira, que continha um exagero de identidades (5), cartão bancário (3) e outros itens desnecessários (agora vou usar o estritamente indispensável), mas não teria me distraído não fosse ter de conversar pelo tal de whatsapp.
Enfim…!
Redes sociais,internet e afins,assim definiu-as Humberto Eco após uma cerimônia na Universidade de Turim em 2015: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”. Mais atual impossível,e,vai piorar!
Concordo, Dudu! E vou além: penso que o que há de mais perverso não são os aparatos tecnológicos em si, mas as redes sociais. As detesto, porém, estou nelas! Isto é, elas ganharam mais um zumbi.