O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
(Lenine e Julieta Venegas)
O oposto do amor é o medo. A frase, que dá título a um vídeo postado pela youtuber Jout Jout Prazer – amo aquela garota!!! – na semana passada grudou em mim feito chiclete. Já faz quase dois anos que estou operando em frequência acima da média no “modo medo”. O inimigo invisível, que nos obriga a usar máscaras, tirou as crianças da escola e me afastou do consultório por mais de um ano, me trouxe à flor da pele emoções que anteriormente eram mais esparsas ou talvez tivessem cores menos intensas. As noites têm sido de mais pesadelos, os dias de mais apreensão e por vezes tenho sobressaltos quando o telefone toca. O “modo medo” nos coloca em alerta. E é bem exaustivo que ele seja constante.
O medo é contrário do amor. A frase de Jout Jout segue ecoando na minha mente repetitiva e confusa. Não é por medo que protegemos o outro do vírus, usando nossas máscaras? Não. Não é por medo. Por medo, defendemos a nós mesmos, quase sempre de um jeito bem atabalhoado e algumas vezes até agressivo. Por amor, colocamos máscaras e pensamos nos outros. Por medo, brigamos com as pessoas na rua, seja porque não usam máscaras, seja porque usam.
No último ano e meio, muitos dos meus medos afloraram de modo arrebatador. Os da infância, os da adolescência, os que saltam por meio das notícias dos jornais, os que eu conheço a origem e os que eu sequer intuía que existissem. Facilitei uma série de processamentos de medo, em reuniões online, e muitas vezes observei minhas próprias histórias de terror atravessarem os medos de quem participou dos encontros. Visitamos nossos porões e voltamos de lá com uma profusão de cobras, lagartos, aranhas e gritos na escuridão. Ao identificarmos as fontes, juntos respiramos aliviados.
O contrário do amor é o medo. A voz de Jout Jout segue ecoando nos meus pensamentos e não me dá sossego. Por medo, milhares de vezes tranquei todas as portas do meu coração e engoli a chave. Sim, eu fiz isso. Sim, ainda faço. Por amor, uso máscaras e higienizo as mãos constantemente com álcool gel. Por amor, me afasto do outro, mas ligo para perguntar como ele está. Quem tem medo não faz isso. O medo é contrário do amor. Ele nos paralisa e impede o amor. Quem tem medo grita, apavora o outro e não consegue amar. O “modo medo” está em ativação constante nestes tempos. Mas ando pensando que talvez haja uma maneira melhor de lidar com tudo isso. Quem sabe a gente não possa ativar o “modo amor”?
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