Quando comecei a meditar, há uns 13 anos, eu havia parado de fumar – já tive dedos amarelos e comprava um maço de cigarros pela manhã e outro no final do dia, todos os dias – e tinha vontade de ser um pouco menos ansiosa. Mas nem sabia muito bem se realmente valia a pena ser menos ansiosa. Fui talhada na velocidade, na obsessão pelo trabalho e na certeza de que estava errado parar. Eu não parava nunca. Nem quando dormia. De modo que me lembro claramente da primeira vez que fui a um centro de meditação e não atenderam à porta quando toquei a campainha. Eu havia trocado o meu almoço pela possibilidade de aprender a meditar e fiquei muito irritada porque não consegui cumprir o meu propósito.
Acontece que, além de acelerada, eu era também obstinada. Se aquilo não havia dado certo da primeira vez, eu sabia que tinha que tentar de novo. Quantas vezes fossem necessárias. E foi assim que, de lá pra cá, torturei meu corpo com câimbras e posturas rígidas, briguei com os pensamentos, rejeitei as emoções… e aos poucos, bem aos poucos, fui permitindo que meu corpo, minhas ideias e minhas histórias cedessem um pouco e abrissem um mínimo de espaço, entre as vértebras quase coladas e a rigidez mental, por onde a vida se permitisse fluir.
Quando, em março do ano passado, todas as certezas caíram por terra como um castelo de cartas, agradeci aos caminhos que já havia trilhado. Mas devo dizer que superdimensionei a pouca fluidez que havia conquistado. No último ano, um espelho projetou na minha frente tudo o que era mais insuportável enxergar dentro de mim mesma. E eu compreendi, visceralmente, de que maneira o processo meditativo pode ser dolorosamente intenso e passa muito longe de uma delicada proposta de relaxamento.
Experimente sentar-se em lótus completo quando mal consegue alcançar seus pés para calçar os sapatos e você vai descobrir que a flexibilidade não é uma qualidade que se adquire rapidamente. E talvez você só consiga fazer essa descoberta ao perceber quanta dor e quantas lesões provocou em si mesmo ao tentar encurtar seus processos.
Eu resolvi escrever sobre isso para dizer que acabei entendendo que, não importa quais foram os meus ou os seus caminhos até aqui, está tudo bem ocupar exatamente o lugar que cada um de nós ocupa neste instante. Está bem se você sente que não aguenta mais. Está bem se você achou que seria mais fácil e não foi. Está bem se você tem feito besteiras. Está bem se você gostaria de ser mais tranquilo e leve, mas neste momento só consegue chorar. Deixar as lágrimas caírem pode ser o melhor que você tem a fazer para descobrir que alguma água ainda pode fluir entre as engrenagens do seu corpo rígido. Talvez nada esteja bom neste momento. E está tudo bem com isso também.
Em tempo: eu facilito um grupo de meditação que se reúne nas noites de quintas-feiras em videoconferência. Se aprender a meditar é uma ideia que agrada a você, pode me mandar uma mensagem de texto pelo whatsapp e solicitar mais informações: +55.31.98395.5144.
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