Sandra Belchiolina
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São deliciosas e com muitas algazarras as memórias do Natal em minha casa da infância. O da adolescência foi apagado e retorna quando eu iria ser mãe. No da minha infância, os preparativos começavam com a montagem do presépio e árvore de Natal.
O presépio era encantado para uma criança como eu. Maria, José, o burrinho e a vaquinha ficavam postos diante do “berço”. Esse ficava vazio até o dia do nascimento do Menino Jesus. Ali estavam presentes também carneirinhos, camelos e os Três Reis Magos. O Cenário era composto com areia e a gruta feita de madeira e capim, ou com uma espécie de papel imitando a pedra. A diversão minha e dos meus irmãos era deslocar os bichinhos e os Reis Magos para perto da gruta. A cada dia que se aproximava da esperada data, eles ficavam mais perto.
Acreditei em Papai Noel, talvez, até doze anos. Data que reconsiderei toda a fantasia. Éramos crianças mais espertas que as atuais. Arrastávamos nossa infância até não poder mais. Os nossos pais, e os tempos outros, eram favoráveis para isso. Com muitos incentivos, tivemos a oportunidade de sermos crianças com fantasias e brincadeiras.
Num desses Natais já mais velhos, lembro-me da reação do meu irmão Aloisio. Ele, já pré-adolescente, ganhou um carrinho. Sua reação foi colocá-lo em cima da cortina de seu quarto. E lá ficou o carrinho marcando o fim de sua infância. A minha foi transformada quando vi que meus pais comentavam sobre o relógio que iriam me dar de presente. Fim das fantasias infantis!
Fato é que, nossa infância foi marcada por Natais, na expectativa da hora do Papai Noel chegar. Esse passava durante a noite e deixava os presentinhos ao pé de nossas camas. E assim foram anos seguidos de bonecas, bolas, caminhõezinhos, revolver de água, panelinhas e muitos outros brinquedos. A última boneca foi a Susi, ruiva e linda. Ela é precursora da Baby, porém tem um corpo mais próximo ao real feminino. É mais pé no chão, como dizem.
Nosso Papai Noel era Mamãe Noel – descobri mais tarde que era mamãe que deixava os presentes em nossas camas. Quem descobriu primeiro? Não sei! A hora também teve de ser alterada, porque assim que brinquedos eram colocados nas camas a algazarra começava. Passou a ser com o dia amanhecendo. Mais tarde, quando já era mãe também, os Natais passaram a ser um momento sagrado de reunião da família. Eu já morando fora de Lagoa. O Papai Noel passa a vir fantasiado (nosso amigo Leão era o representante). E as crianças adoravam, exceto… Num desses, estávamos sentados em volta da mesa, na maior prosa quando reparo numa das sobrinhas sentadinha e quietinha com a turma de adultos. Pensei: tem algo errado. Era medo do Papai Noel, descobri.
Nossos Natais, com a chegada das crianças, passaram a ter teatro. Elas fantasiadas de Maria, José e pastorinhas trazendo nos braços o menino Jesus, na hora de seu nascimento. Ele não é o mesmo que eu colocava na manjedoura. Cresceu muito! As orações, os presentes, e o mais importante, o momento de estarmos todos juntos.
Creio que, o que nos faz bem e traz paz é a simplicidade de toda nossa celebração em família.
Nossa casa cheira a pernil – peru e chester não fazem tanto sucesso. Não falta, também, o salpicão da tia Sil (tem de ser o dela). Descobri que o segredo é fritar as batatas. Olhe que já passei horas ajudando com as batatas palhas. Brincamos que o que causa discórdia é a uva passas. O melhor é deixá-la a parte para os que gostam. Assim seguimos – em família e nos renovando com simplicidade, amor e travessuras (agora dos novos que chegaram).
A casa já está com quatro gerações diferentes. João e Elisa, que estão se alimentando da fantasia do Papai Noel por hora.
Como Cora Coralina poetizou, a trago, e, pedindo licença para modificar sua “Poesia de Natal” para os “Natais de Minha Casa”:
Enfeitamos a árvore de nossas vidas com guirlandas de gratidão.
Colocamos no coração laços de cetim rosa, amarela, azul, carmim.
Decoramos nossos olhares com luzes brilhantes, estendendo as cores em nossos semblantes.
Em nossas listas de presentes, em cada caixinha, embrulhamos pedacinho de amor, carinho, ternura, reconciliação, perdão!
Tem presente de montão no estoque do nosso coração e não custa um tostão!
Enfeitamos nosso interior! Somos diferentes! Somos reluzentes!
Ficou emocionante e delicado! Abraços ???
Me fez lembrar dos natais da minha família. Só mudam os nomes mas a ternura é a mesma.