Tais Civitarese
Fim de ano é época de festas e neste, não sei por que, não me sinto festiva. Sinto-me – pela primeira vez – um pouco oprimida pela obrigatoriedade das celebrações. Eu costumava amar o Natal. Acho que finalmente terei que enfrentar um Natal sem minha avó, e desta vez, o auge da pandemia não será uma desculpa.
O auge já passou. Talvez o auge dos meus Natais também. Olho para o baú onde hiberna a árvore e hesito muito em abrir. Resisto em montá-la. Mas o farei, a pedido das crianças. Terei que esquecer que não sou mais neta e tampouco criança. Sou mãe. Finalmente, sou mãe.
Está sendo difícil. Era a única época do ano em que nosso encontro estava garantido. Ela morava em outra cidade. Nunca passávamos o Natal longe. Não sei se existe Natal sem avó. Minha mãe é avó, talvez isso atenue um pouco. As crianças ainda acreditam no Papai Noel. Meu marido provavelmente cozinhará uma coisa gostosa. Estaremos juntos e protegidos. E eu só consigo pensar nela e na falta que ela faz.
Os sentimentos são egoístas e contraditórios.
Talvez eu procure melhorar o Natal de alguém. Talvez eu leve meu coração partido para fazer o bem em algum lugar.
No dia, certamente estarei alegre. Mas no fundo, vou sorrir e lembrar dela. Vou atender a porta e esquecer que não será ela. Vou olhar as pessoas e por mais que sejamos sua continuidade, sentirei falta de vê-la ali. Vai ser frio e chuvoso. Vai ser estranho e com motivos para agradecer. Mais ou menos como é a vida. Mais ou menos como são todos os dias. Talvez o segredo seja ajudar a dar dignidade a alguém e sublimar as nossas dores.
Assim farei, assim será.
Natal e vovó andavam juntos. Vinha o Natal, vinha ela também. Também sinto que esse será nosso primeiro Natal sem a presença física dela. Minha amada mami, sua amada vovó.