Quinta série

Tais Civitarese Com frequência, tenho a impressão de que a vida adulta é uma eterna repetição da quinta série. Picuinhas, inseguranças, disputas, machismos. Tudo isso achei que já estivesse perdido no tempo. Pensei que a fase dos cabelos brancos nos trouxesse desafios mais interessantes. Percebo que não. É tudo sempre mais do mesmo, com cores envernizadas e um pequeno toque de complexidade trazido pelo tempo. … Continuar lendo Quinta série

As balas grátis

Tais Civitarese Ronaldo viajou para a Europa. Foi esquiar na Suíça com sua namorada. Escolheu um lindo hotel com paredes revestidas de veludo. Vestiu suas belas roupas acolchoadas e quentes. Calçou luvas. Ao sair para a estação de esqui, avistou um pote de balas no saguão. Eram gratuitas, uma cortesia da hospedagem. Pegou duas. Entrou no táxi e seguiu o passeio. Ao retornar para o … Continuar lendo As balas grátis

Esse Natal

Tais Civitarese Fim de ano é época de festas e neste, não sei por que, não me sinto festiva. Sinto-me – pela primeira vez – um pouco oprimida pela obrigatoriedade das celebrações. Eu costumava amar o Natal. Acho que finalmente terei que enfrentar um Natal sem minha avó, e desta vez, o auge da pandemia não será uma desculpa. O auge já passou. Talvez o … Continuar lendo Esse Natal

As meninas de maiô - Pixabay

As meninas de maiô

Tais Civitarese Aos 14 anos, aquela era a maior expectativa do ano: a viagem com o colégio para Angra dos Reis. Ou como era chamada oficialmente, o Curso de Biologia Marinha. Praia, sol, independência, ouriços do mar e melhores amigas. O que poderia dar errado?  Havia, contudo, um dilema: usar biquíni em frente ao pessoal do colégio.  Eu e meu grupo de quatro amigas tínhamos … Continuar lendo As meninas de maiô

Murcha

Taís Civitarese Margarida não se contentava. Ela queria ser notada.  Tinha um ímpeto, uma coceira que lhe provocava até desgaste na pele. Ela precisava de atenção, tinha uma sede, um frisson, quase como uma doença.  Precisava lançar mão de diversos artifícios para que alguma luz recaísse sobre ela. Se estivesse à margem, pulava no rio para se fazer notar. Se não estava no centro, sentia-se … Continuar lendo Murcha

Deus

Taís Civitarese Foi meu pai quem me trouxe as primeiras noções sobre a existência de Deus. Nas idas à missa todos os domingos durante a infância e a adolescência, aprendi menos do que com ele em inúmeros diálogos ao longo da vida.  Nas conversas de carro em viagens para visitar nossos parentes no interior era quando ele nos contava, a mim e a minha irmã, … Continuar lendo Deus

Muito amor e ela

Taís Civitarese Sei que me torno repetitiva. Mas não escrever sobre ela seria mentir. Hoje faz três meses que ela se foi. Anteontem, foi meu aniversário. Três meses exatos depois do aniversário dela. Durante 38 anos, moramos em cidades diferentes. E por 38 anos nos falamos nesse dia. Onde estivesse, ela me telefonava. Sempre alegre, sempre amorosa. Ontem, tive uma grande festa na minha pequena … Continuar lendo Muito amor e ela