Essa frase, nos meus tempos de criança lá na minha saudosa Araxá, era marcante e ficava bem na porta de entrada do cemitério. Naquela fase da vida, já comentei aqui em postagens anteriores, detestava essa afirmação de que um dia todos nós vamos partir para a eternidade. Aliado ao fato insano de quem insinuava que os mortos iam puxar os pés dos meninos desobedientes.
Com as décadas que já carrego nas costas, que me premiaram com dores na coluna e joelhos (não bastasse a tireoide, hipertensão e outros temas menos frequentes no meu cotidiano médico), desfruto do privilégio de viver intensamente cada novo dia.
Naqueles tempos, hoje felizmente isso é menos contundente, era apregoado que devíamos estudar para ter dinheiro e poder. Nos dias atuais, diferente, essa pregação deu lugar à necessidade de sermos úteis à vida, ao planeta e aos nossos semelhantes. Ainda existem resquícios dessa insanidade de que o importante é a posição numa sociedade hipócrita.
Não consegui trilhar por esse caminho, ainda bem, pois meus passos me premiaram por conhecer outro jeito de viver. A preocupação social me brindou – ainda jovem – por buscar um mandato eletivo e trabalhar nessa direção. Depois, seguindo caminhos próximos – com menor exposição –, permaneço até essa fase da minha vida trabalhando em atividade pública.
Nessa função, quase uma missão, já prestei assessoria profissional a diferentes campos ideológicos. Desde parlamentares progressistas, até mesmo conservadores, jamais – entretanto – a grupos radicais. Sempre procurei contribuir com o meu melhor, em busca de sugestões e soluções que tenham como interesse na ponta o bem estar das pessoas, sobretudo aquelas necessitadas.
Já pude assistir e presenciar momentos marcantes da vida nacional, onde destacaria, nos anos 80, as campanhas das “Diretas Já” e a eleição do Tancredo para a PR. Assistindo ao retrocesso, a partir de 2013, sigo sofrendo com as décadas perdidas pela ação inescrupulosa de grupos radicais que não têm pudor, desprovidos de qualquer sentimento com a população carente.
Fiz essa digressão para voltar ao início e ao título dessa postagem. Além da frase, cunhada na entrada do cemitério, na Rua Capitão Isidro – onde morei e ao lado dos meus avós maternos – tinha uma Casa Espírita. Na fachada do Caminheiros do Bem, estava gravado: “fora da caridade não há salvação”. Era quase proibido, para nós, católicos, passar pelo meio fio daquele lugar.
Tive de viver e experimentar muitas coisas na vida, para hoje entender e moldar meu comportamento pessoal. Sou cristão, frequento uma casa kardecista – minha vida tomou novos rumos desde quando ali fui iniciado – e tenho respeito pelas diferentes crenças. Minha família segue, em sua maioria, católica, apostólica, romana. E são gente do bem.
Conheço e tenho amigos, até mesmo ateus e em números expressivos, que também são pessoas do bem. Paralelo a isso, identifico gente que se diz religiosa e nem por isso. Costumo os chamar de fakes cristãos. Arrogantes, preconceituosos, racistas, misóginos, homofóbicos, tudo isso no ano da graça de 2022. Alguns contribuem com ações sociais, demonstram empenho e dedicação, como se estivessem negociando com Deus seus imperdoáveis pecados.
Fico daqui do meu canto tentando entender. Entre qualquer uma das religiões, existem as pessoas de bem e os negociadores – nesse caso em sentido amplo – com uma eventual e futura vida pós morte. Esses malandros, não encontro expressão mais branda, como Macedos, Valdemiros, Malafaias, Felicianos, Valadões, Hernandes e outros que meu escárnio registram, conseguem dormir o sono dos justos? Seguramente que não!
Pois bem, ao final de suas vidas, reduzidos à pó, deixarão um legado de uma fortuna feita à custa do pagamento de dízimos e sem ter plantado efetivamente qualquer ação de caridade. Se acreditam mesmo no fogo do inferno, como pregam, sabem muito bem o que os espera na vida eterna. Assim seja!
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