Eduardo de Ávila
Diria, sem medo de errar, que voltamos à normalidade do nosso dia a dia. Alguns, ainda com receios, mas são pouquíssimos, não saem de casa aguardando a terceira dose aliada ao anúncio da imunização de rebanho. Creio eu, que estamos bem pertinho dessa condição, mesmo com o governo federal conspirando em oposição e insistindo com teses na contra mão da ciência e mesmo do bom senso.
Interessante, sobre essa pessoa que está – mesmo que eventualmente – ainda na condição de pR, venho observando, até entre antigos e alucinados defensores dessa espécie de gente, que andam calados e mesmo sumidos das redes sociais. Estratégia não é, pois desprovidos de cérebro – líder e seguidores – não têm discernimento suficiente para articular algo para o qual é necessário pensamento profundo. Creio mesmo na esgotável fonte da ignorância coletiva, ainda que sejam apenas 15%.
Pois bem, em meio à volta da normalidade, suspensa por mais de um ano e meio, começamos a sentir o drama da falta de governo no Brasil. Inflação inimaginável e inaceitável. Comparável a depois da implementação do plano Real, do governo Itamar Franco e furtado por tucanos espertos capitaneados por FHC, ao que estamos acompanhando vai bater a casa dos dois dígitos.
A elevação dos preços de tudo, desde uma água mineral – no aeroporto de Confins me recusei a pagar R$ 10,40 numa garrafinha de 500 ml que no supermercado custa R$ 1,20 (um roubo) –, passando pelo sacolão e chegando em outros bens de consumo. Até a comida a quilo está ficando proibitiva. Adoro (adorava) o Dona Conceição do Pátio, mas comer uma carne no final do dia exige um serrote. O dito vilão seria os combustíveis, que semana passada ameaçaram faltar nas bombas dos postos de gasolina.
Sobre esse produto, indo na sexta-feira – via conexão – ao campo de aviação internacional de Belo Horizonte, pude experimentar uma lição boçalnarista. Um soldado da PM, daqueles caroneiros de ônibus, explicava ao motorista a razão da quase greve dos transportadores de combustível. A veemência e autoridade – talvez pela farda que usava – deixou o motorista mais atento ao que ouvia do que o trabalho de observar as faixas no asfalto.
Dizia o policial militar, “o Bolsonaro zerou os impostos, mas os governadores não querem abrir mão dessa arrecadação. Falam em diminuir um pouco, mas podem sim baixar para metade que não vai trazer prejuízo”. Impressionado que fiquei com a lição de economia, política e tamanha convicção que o incauto discursava que me impediu em ler o nome desse sujeito na sua farda. Pensava em sugerir suas palestras em fóruns de debate sobre o tema, com a presença de autoridades que – talvez por má vontade – não seguissem suas sugestões.
Deboches à parte, até porque a afirmação da isenção de impostos federais que o raso soldado afirmava é mentirosa, retorno à normalidade. Essa volta, evidentemente, nos trará também como companhia esses tipos de dissabores da vida contemporânea. Como diria o velho e saudoso Olavo Leite Bastos – mais conhecido como Kafunga – “no Brasil o errado é que é o certo”. O mestre Kafa, que tive o privilégio de uma saudável convivência (trabalhei na Câmara Municipal quando ele era vereador, ao lado de outros como Vilibaldo Alves) tinha tiradas magistrais. Pareciam frases bobinhas, que hoje percebo que eram – na verdade – muito sábias.
Pois que, nos últimos dias – andando com toda liberdade pelas ruas da cidade – começo a sentir falta de amigos que se foram nessa pandemia. Entre os mais de 600 mil brasileiros que perderam a vida, a maior parte por culpa e responsabilidade da omissão dessa política negacionista do governo federal, alguns me eram muito estimados. Pessoas caras e queridas. Entre eles, a maioria dos que me faltam, seguidores e que também debochavam dos cuidados necessários que este (des)governo apregoava pelos quatro cantos de um Brasil atônito naquele momento.
Que Deus os tenha. Nós seguimos daqui nessa nau ainda sem rumo, mas que em 2022, seja nas mãos de quem for o escolhido, irá caminhar para recuperar as décadas de retrocesso que o boçalnarismo nos condenou.