Tais Civitarese
O nome me lembra as aulas de matemática, mas creio que esteja me confundindo.
Só sei que ele faz parte de nossas vidas como uma entidade obscura, que nos vigia e controla. Um tipo de Deus. Só que ele não é bondoso. Ele quer algo de nós. Nosso tempo, nossos cérebros e, sobretudo, nosso dinheiro. É esse o dispositivo que hoje nos domina: o algoritmo.
Para quem trabalha com a internet, é assim. Se trabalhamos pouco, ele nos impele a trabalhar mais. Se tiramos um dia de folga, ele nos pune alocando-nos ao limbo do esquecimento. Quando nos ausentamos por ainda mais tempo, catapulta-nos para a obscuridade. E só retorna a favorecer-nos quando voltamos a servi-lo.
É ele a ditar o ritmo. Ele não aceita objeções. Mal tem um nome. Apesar de já sabermos exatamente quem – ou o quê – está por trás disso…
Ele não tem moral e nem nada a perder. Perder, para ele, é apenas diminuir o ganho.
Joga com as nossas mentes e manipula nosso estado psicológico. Ele nos faz sentir sempre aquém dos demais. Atiça-nos de todas as formas. Impõe frequentes atualizações e aquisição de habilidades quase sempre inúteis. Seu ritmo conclama à artificialidade.
A vida real não se parece em nada com ele. É lenta, errática, polimórfica, irregular. Doente com certa frequência, preguiçosa muitas vezes, espontânea e sem edições.
Como solucionar esse impasse entre viver e produzir no novo campo onde a vida parece, de fato, acontecer?
A meu ver, o debate chega a ser ético. Seguir um mecanismo ansiogênico que reduz interações humanas a números não me parece um bom caminho. Por intuição, sigo em um ritmo ditado pelo combo disposição + desejo + qualidade + verdade. Às vezes, dá um bom caldo. Noutras, ninguém vê. Mais ou menos semelhante a como a realidade funciona mesmo…
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Tata, muito necessário refletir sobre isso.