Nas manchetes dos meus dias, a repetição. Caminho a pé atravessando a árida rotina. O cotidiano está cristalizado no infinito das horas. Os mesmos hábitos se repetem na permanência do calendário. Estou cansada. Haverá uma brecha para o existir? Sigo o ritmo dos ponteiros do relógio e a cadência tediosa do que é ordinário, comum. Nas bordas da banalidade me construo. Me faço na concretude da constância.
Há um pedaço de mim que preciso elaborar. Fico assim, querendo ser infinita, mas a vida me é subtraída a cada dia. Tenho medo das vidas cheias e das existências vazias. Haverá possibilidade de criar? E essa morte que anda me rondando? Para que ela me espreita se posso romper a qualquer momento? Será que é porque duvido?
Até nas vidas aparentemente extraordinárias há reproduções. As palavras se repetem. Os desejos se repetem. As mesmas frivolidades. Até na vida mais repetitiva, há o extraordinário. Algo que brota com a sutileza do olhar e cresce. E se faz pungente. Brilha e inspira. O dia que se transforma por um gesto de cuidado, por um carinho manso e delicado com as pontas dos dedos. O jeito suave de se repartir. A flor amarela. Haverá um tempo para amar?
Minha semente foi plantada em solo de busca e de estabilidade. Muitas coisas foram escolhidas e laboradas. Outras coisas simplesmente sofreram a ação sábia do tempo e me foram dadas como grandes dádivas. Elas não foram procuradas, apenas me encontraram enquanto eu caminhava distraída. O tempo não me esmaga mais.
Quando eu era criança gostava de fazer trabalhos de escola em cartolina branca. Ela vinha enrolada da papelaria. Sublime era o momento em que eu a abria e colocava os dois pés de chinelo nas bordas para mantê-la esticada enquanto eu trabalhava. Aquela tela em branco era a maior dimensão de mim. E era ali que eu me projetava com caligrafias, decalques e canetinhas. A realidade ficava em suspensão. O tempo não existia. Por que perdemos o simples? Por que nos distanciamos do essencial?
Já adulta, descobri que sou dos contrastes, por vezes irreconciliáveis. Depois do retorno de Saturno, abandonei alguns tetos sem reparo. Perambulei pelo mundo e me perdi no outro hemisfério. Mas me divirto nos encontros dos equinócios subjetivos. Experimentei o desapego e a vida nômade. Deixei vestígios. O sal, o suor, as cinzas. Ainda consigo voar.
Ontem fui trabalhar de bicicleta e sonhei com porta retratos. Neles, havia fotografias dos meus fantasmas e dos meus irmãos. Foi preciso olhar. E não é possível des-ver.
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