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Play – Foto: Luísa Bahia
Luísa Bahia

“Só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”. Foi com essa música que acordei hoje de manhã. Não, ela não tava alta na caixa de som e me acordou. Ela tava soando dentro mesmo, na minha radiola interna. “Go Back”, de Sérgio Britto e Torquato Neto, foi gravada no Acústico MTV de 1997. Eu tinha 7 anos quando ele saiu. Essa semana me lembrei desse álbum, coloquei pra tocar no carro, pela plataforma de streaming verdinha, e me emocionei ao lembrar de t o d a s a s l e t r a s d o d i s c o. Fiquei felizona, ao chegar na casa onde cresci, encontrar o disco físico, com o encarte amassadinho e a capa de plástico e o verso do cd arranhados. 

Nas gavetas de disco comecei a achar as pérolas que embalaram a minha infância e adolescência! De Sandy Junior a Deep Purple, passando por É o Tchan e Carrapicho, caminhando pela Bossa Nova, Cheiro de Amor, rolando com Caetano, Chico Buarque e Chico César, dançando com Chiquititas, Netinho, Secos e Molhados e Beatles e pirando forever nas gatas Cássia Eller e Rita Lee. Eu ouvia os discos da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos e das minhas tias. Mais adiante na história, ouvia os discos das amizades e crushs. Confesso que roubei muitos discos, não por maldade, mas por que o gosto era tanto que a galera desistia e acabava me dando de presente. Me lembro de conhecer o Caetano pelo disco Prenda Minha que a tia Magalô deixou lá em casa e nunca mais viu! Publicamente sorry, Tia! Mas sua contribuição foi fundamental para a formação da minha pessoa. Ainda hoje é um dos meus discos preferidos. 

Muito louco pensar que não havia internet, nem plataforma de streaming e quem fazia playlist era a Boticário, que sorteava os cds, ‘’internacional’’ e ‘’nacional’’, na época do natal. Acho um barato a moda do vinil ter voltado e eu poder sacar os lps de agora e das gerações anteriores. Dançar ao som de Dolores Duran e Alcione, com aquele chiadinho, é um charme. Louco também pensar que, enquanto eu ouvia essas músicas que embalaram vários dos meus moments, eu não podia imaginar que eu me tornaria cantora e compositora. E agora, olhando o que faço, o que crio, saco que tem muito dessa suruba sonora que me habita. Isso parece óbvio, mas confesso que as referências mais recentes estavam mais fortes no meu imaginário. Legal lembrar da Luisinha aos 5, batendo cabelo ao som de Led Zeppelin. Estou gestando uma cria disco vinil e, em meio a essa pluralidade de sons, que nos acompanham todos os dias, em todos os momentos, me peguei pensando quais seriam os discos que ficam. O disco como um álbum de figurinhas, uma coleção de cenas, cheiros, memórias. 

O documentário “Alive Inside”, de 2014, com direção de Michael Rossato-Bennett, conta a saga de Dan Cohen para criar a ONG Música e Memória. Ele propõe a idosos com problemas de depressão e esquecimento, um tratamento pela música. Ele faz uma pesquisa junto a familiares e amigos, sobre quais músicas o paciente ouvia na juventude e antes do adoecimento. Ele então prepara uma playlist para cada um e o resultado é absurdo! O brilho nos olhos, a ativação do corpo, a vivacidade explode na presença dos velhinhos de fone. Dentre algumas conclusões, a pesquisa comprova que a música ativa uma memória profunda e antiga, não afetada pela doença. Além disso desperta a sensação dos bons momentos vividos. O filme, que ainda conta com os incríveis Oliver Sacks e Bobby Mcferrin, tá disponível no Netflix. 

Voltando às memórias de cá, me lembrei que com uns 11 anos, eu coloca “Redemption Song”, numa versão ao vivo com Lauryn Hill e Ziggy Marley, pra chorar. Essa, em específico. Dramática pouco, né? Mas acho bonito! É vida pulsando. Me lembrei também que quando fiz 15 anos, escolhi “Agora só falta você”, da Rita Lee, para ser a trilha daquele vídeo de fotos que todo mundo fazia. Eu achava aquela história toda baranga, mas pelo menos era menos baranga que aquela tradição de baile de debutante e cadete da novela. “Um belo dia resolvi mudar, e fazer tudo que eu queria fazer…” parecia ser mais inspirador para uma jovem, do que valsa e cetim. 

Revisitar essas músicas e histórias, me fez sentir saudade e uma auto-confiança na caminhada, não sei, algo a ver com pertencimento. Acho que música é testemunha e amuleto. Com elas seguimos rindo, chorando, bailando, perdendo a linha, retomando o eixo. Meu irmão Daniel vive dizendo “A vida não tem replay”. Boto fé, brother. Mas eu também acho que é sempre tempo de apertar o play e começar de outro jeito e de novo e sempre. 

A foto da arte é uma reunião de todos os discos físicos que encontrei na casa dos meus pais. Num futuro não muito distante, espero ter um disco pra chamar de meu e que será de vocês também. Enquanto isso, preparei uma Playlist com carinho, juntando essas canções do passado e as do presente. Só dar o play no link abaixo! Tchrurutchu…

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