Márcio Magno Passos
Viviane, minha filha então com quase treze anos, entrou decidida no carro. Bateu a porta, jogou a mochila no banco de trás e falou sem meias palavras:
– Pai, vamos ter uma conversa séria agora.
– Qual o problema, filha? Pode contar comigo.
– O problema não é comigo, pai.
– Com quem então?
– É com você.
– Comigo? Qual é o meu problema?
– Precisamos conversar sério sobre este seu regime.
– O que é que tem o meu regime?
– Li na sua coluna do jornal que você emagreceu seis quilos em um mês e quero saber qual dieta você está fazendo…
– Uai, diminuí a comida e estou fazendo exercícios.
– Qual médico receitou?
– Conversei com um médico amigo meu.
– Te conheço, pai. Você está fazendo dieta da sua cabeça e, como sempre, exagerando na dose. Aposto que você não está comendo nada pela manhã, só almoça legumes e bife de frango e passa o resto do dia com duas maçãs e quatro biscoitos de água e sal. E se o médico recomendou uma hora de caminhada, você deve estar caminhando umas duas…
– Não exagera, filha.
– Pai, eu vou te falar com conhecimento de causa. A dieta tem que ser balanceada, considerando que o nosso organismo precisa de carboidratos, vitaminas, fibras, sais, cálcio e outros nutrientes importantes para a nossa saúde. E exagero na sua idade é um perigo…
– Por acaso você sabe quantos anos eu tenho para vir me chamar de velho?
– Sei. São 47 anos e não estou chamando ninguém de velho. Apenas alertando para o seu bem. E estou falando com conhecimento de causa…
– Filha, quem te falou essas coisas?
– Aprendi lá na escola, na Feira de Ciências.
– Então tá. Pode deixar que mudarei minha dieta.
Pai e filha desceram do carro e entraram num restaurante. Ela, como sempre, comeu duas colheres de arroz, duas de espaguete, batata frita e salaminho. O pai, que das outras vezes bronqueara, fez de conta que não viu. Afinal, ele comera apenas bife de frango com salada. E ela não percebera ou desistira de falar com conhecimento de causa.
No dia seguinte, o pai ajustou a dieta para evitar problemas e ficar com a consciência tranquila. Acrescentou um copo de suco de berinjela pela manhã, incluiu duas colheres de arroz no almoço de sábado e reduziu a caminhada para uma hora e meia, com mais quinze minutos de ginástica adotada pela Força Aérea Americana. Emagreceu mais um quilo e meio. Mas não tira da cabeça aquela picanha de carne de sol de Bocaiúva, o empadão de Madeleine e aquela cerveja gelada na geladeira. Que sacrifício…