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Guilherme Scarpellini
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Uma pessoa disse que eu, como todo escorpiano, sou uma pessoa vingativa. Como não podia deixar barato uma acusação dessa monta, resolvi expor o nome dela em público: Daniella.

Só por vingança.

Imagine, eu, uma pessoa vingativa… Coisa que mais detesto na vida é cultuar o rancor. Sou capaz de esquecer uma desfaçatez só para não precisar lembrar-me de onde ela veio. Além do mais, praticar o perdão é um dos ensinamentos mais belos e mais sábios da Bíblia. Embora o livro que eu mantenho na minha cabeceira seja outro, “O Conde de Monte Cristo”.

Foi nessa linda história de inveja, traição e reviravolta que entendi o verdadeiro significado da frase “a vingança é um prato que se come frio”. Foram 14 anos que Edmond Dantès passou na prisão planejando uma resposta à altura de seu detrator. Quatorze anos… tempo demais para uma só vingança.

Logo percebi que esse negócio de deixar o prato esfriar não é para mim. Outro dia fui fechado no trânsito e, no minuto seguinte, eu já ultrapassava o motorista para, na sequência, reassumir a frente. E, ao chegar lá, o prato ainda estava fumegante.

Entretanto, às vezes, a desafronta exige mesmo tempo e inteligência emocional para ser bem aplicada. É preciso planejar, esperar e agir na hora certa. Mas isso, sim, não seria uma amostra de vingança dissimulada, pura e crua, olho no olho? É que escorpiano também é bom de memória.

Em criança, havia um grandalhão que me perseguia na escola. Duas ou três vezes cheguei em casa com um olho roxo. Levou quase duas décadas para nos reencontramos, desta vez, numa sala de audiência. Ele, no banco do réu. Eu, como advogado do autor.

Foi uma refeição glacial.

Guilherme Scarpellini

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Guilherme Scarpellini
Tags: crônica

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