Tornei-me mãe aos 31 anos. Já havia percorrido alguns caminhos. Já tinha uma profissão, vários empregos, amigos, convivência em família. Já tinha morado em dois países e já tinha, eu mesma, participado de inúmeros nascimentos.
Entretanto, pouco me lembro conscientemente das coisas que vivi antes daquele dia. Parecem tratar-se de uma outra pessoa, de uma outra vida. Mesmo sem nunca ter sonhado em tornar-se mãe, uma vez que a maternidade colocou-se para mim, ela me transformou de forma irrecuperável.
A caminho do parto, sentia-me como numa montanha-russa de onde não poderia descer sem antes enfrentar a queda livre. Aquela volta já havia começado e o chão ficara bem para trás, lá embaixo. Quando segurei o bebê em meus braços, senti sim um afeto imediato. E senti que nada jamais seria como antes. A pessoa que eu era morreu com aquele nascimento. E surgiu outra no lugar, que foi nascendo aos poucos ao longo do tempo, reeditando-se dia a dia.
Não sei que processo é esse que acontece com as mulheres. Não se trata propriamente do “amor incondicional” de que tanto se fala. Creio ser algo mais profundo, mais instintivo. No meu caso, essa sensação tocou profundamente a tecla da responsabilidade. Passei a saber que aquela vida dependia de mim. Que minha função seria zelar por aquele bebê custasse o que custasse. De certa forma, sinto-me assim até hoje.
Foi muito difícil voltar a ser pediatra após ter filhos. Todos os meus pacientes passaram a ser um espelho desse sentimento. Ao ponto de uma vez, durante o exame clínico de uma criança no Pronto-Socorro, eu dizer: “Agora, a mamãe vai olhar seu ouvido”. Ele não era meu filho. Porém, era. A mãe entendeu perfeitamente.
A verdade é que além das alterações da rotina, tem algo de muito estranho e forte que nos lastreia a partir deste momento. Uma espécie de fio, que pode ser visto como tolhedor da liberdade, mas também como uma conexão para um outro mundo. Um mundo muito único, de sensações intensas, de poder, de solidão, de afeto, de medo. É nesse novo mundo que se passa a ter que existir. E construímos ao redor de quem éramos uma pessoa que desempenhe bem o seu papel ali. Ainda me sinto tateando os caminhos, segurando-me nas bordas, ora escorada na parede, ora deitada no chão. Sinto-me em construção inacabada, tendo que abrigar dois filhotinhos. Como um carro que circula cheio e de portas abertas. Ou como a terra que dá a vida e que também treme, explode em lava, promove tempestade, transforma-se a cada chuva.
Sinto-me muito estranha, porém confesso viver uma aventura muito interessante. E olhe que já faz quase nove anos que vim para “aqui”. Dizem que essa sensação dura a vida toda.
Cada mãe é um planeta. Tem a face escura e a clara, a iluminada e a sombria. Só espero não sair da órbita e passar a vagar desgovernada pelo universo. Para isso, talvez a força gravitacional materna seja essa sensação invisível que nos conecta a esse novo jeito de existir com um horizonte no rosto de cada um de nossos filhos.
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