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Crise de cura

Crise de cura – Foto: Pixabay
Daniela Mata Machado

O que negas, te subordina. O que aceitas, te transforma.
(Carl Gustav Jung)

“Tive uma noite dificílima depois da sessão de Reiki. Me arrependi de ter vindo aqui na semana passada.” O relato era da minha cliente. “Ando chorando à toa desde que estive aqui. Não durmo bem. Todos haviam me dito que o Reiki melhorava o sono e diminuía a ansiedade. Foi por isso que vim.”

Perguntei há quanto tempo ela não chorava antes daqueles dias. “Não me lembro. Muito tempo.” Era preciso explicar-lhe como funciona uma crise de cura. Quando se varre a poeira para debaixo do tapete, não é muito cômodo decidir fazer uma faxina. Às vezes, a poeira chega a desencadear uma crise de asma. Não é que a poeira não estivesse ali. É que antes não se via.

A moça sofria de ansiedade, se irritava facilmente com as pessoas e chegou ao espaço terapêutico pensando em deixar, a um só tempo, o marido e o emprego. Mas, conforme me relatava naquele segundo encontro, não era alguém que se debulhasse em lágrimas como vinha fazendo nos últimos dias.

Ela se definia como uma pessoa forte, decidida e de gênio indomável. Brigava por seus direitos e por qualquer coisa que considerasse errada no mundo. Dormia mal, era vista pela família como excessivamente controladora e não tinha muita paciência para arroubos emotivos.

“Você era uma criança segura e forte?”, perguntei.

“Não. A vida me tornou forte. Eu era uma criança tola, chorona. Uma menina que não sabia brigar e vivia querendo pacificar o que não podia ser pacificado.”

Há tantas coisas que não conseguimos pacificar. Não é que não seja possível, mas muitas vezes não temos recursos para isso. Há tantas guerras que gostaríamos de ter impedido. Tanta violência que preferíamos ter interrompido.

Não sei quais eram as guerras que a menina gostaria de ter pacificado. Sei, no entanto, que represar esses conflitos não impediu que eles seguissem tirando seu sono e sua paz nos tempos vindouros. Nem impossibilitou que, de tempos em tempos, bombas explodissem involuntariamente dentro do peito da mulher que ela havia se tornado.

Ela estava irritada com o Reiki. No lugar dela, eu também estaria. Afinal, tudo o que aquela mulher havia amassado e apertado para esconder em gavetas que não revelassem toda a fragilidade que lhe parecia tão má, de repente escorria pelos seus olhos, sem nenhum pudor.

O que ela nem imaginava é que as lágrimas – que não haviam lhe dado sossego durante toda a semana – eram o antídoto para a dor que, em algum momento, ela não poderia mais suportar. Não se pode controlar uma dor com analgésicos a vida inteira. É preciso vivê-la, entender sua origem, olhar nos olhos dela e, só então, dizer que ela pode ir.

Minha cliente acabava de olhar nos olhos da sua própria dor. Acabava de entrar em contato com a menina que gostaria de pacificar o mundo e sentira-se incapaz. Acabava de entender que podia pacificar o seu próprio mundo. 

Não nos vimos muitas vezes depois daquele dia. Mas ela me mandou uma mensagem para contar que finalmente dormia melhor. Ela havia decidido dar novas chances ao seu emprego e ao seu marido. Disse também que, qualquer dia desses, gostaria de passar no espaço terapêutico porque achava que o Reiki era mesmo muito relaxante.

*

Se você quiser agendar uma sessão de Reiki – atendo no Carmo-Sion –, pode me mandar uma mensagem de texto pelo whatsapp: +55.31.98395.5144.

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