Eu não sei vocês, mas ultimamente já acordo cansada. Exausta, para ser mais exata. Dezessete meses é tempo demais para a gente viver sem esperança. Uma amiga minha esses dias quis chorar na antessala do consultório de um médico que a deixou aguardando por mais de uma hora e meia com uma dor que ela já não podia suportar. Me confessou que o choro era de desesperança na humanidade das pessoas. Eu também tenho chorado demais. De cansaço. Milhares de vezes me pego pensando que devemos estar perto do ponto de virada porque as pessoas já não aguentam mais. Aí me lembro de que já faz um tempo que deixei acreditar em pensamento mágico. E me agarro na força de Belchior: “Tenho sangrado demais. Tenho chorado pra cachorro. Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro”.
Tem um texto que circula na internet, atribuído a Elena Mikhalkova – não consegui confirmar a autoria –, que também ajuda a seguir adiante no país que já enterrou quase 600 mil pessoas, vítimas da Covid 19. O primeiro trechinho dele diz assim:
“Minha avó uma vez me deu uma dica:
Em tempos difíceis, você avança em pequenos passos.
Faça o que você tem que fazer, mas pouco a pouco.
Não pense no futuro ou no que pode acontecer amanhã.”
Tenho tentado fazer assim. Muitas vezes não consigo e sou invadida por um excesso de amanhã, que me deixa profundamente amedrontada, ou por uma abundância de ontem que me faz querer voltar o relógio e aportar em algum lugar do passado onde o futuro parecesse menos distópico. Mas logo retorno e me lembro de que tudo o que a gente tem é hoje e tudo o que dá para fazer é somente o que dá para fazer agora.
“Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte”. É Belchior lembrando que, apesar de nem tão moça, me sinto “sã e salva e forte”. E que este ano eu não morro. Nem eu, nem Emicida, que canta agora no meu ouvido: “Talvez seja bom partir do final, afinal é um ano todo só de sexta-feira 13”. E eu me lembro que sexta passada foi sexta 13. Uma sexta 13 num ano todo só de sexta-feira 13. “É tão triste ter que vir coisa ruim pra nos unir”: é o poeta lembrando que talvez ainda exista um propósito maior nisso tudo, ou que talvez nem seja um propósito, mas apenas uma maneira de fazer toda essa dor não destruir, além das vidas de tanta gente que cada um de nós ama e amou, tudo o que resta da nossa humanidade. “Viver é partir, voltar e repartir. Partir, voltar e repartir…”
Usar boas máscaras é um jeito que a gente tem de proteger a nós mesmos e aos que cruzam o nosso caminho. E como nem todo mundo tem condição de adquirir essas máscaras, eu queria sugerir a cada um que puder comprar uma caixa de máscaras cirúrgicas – dessas de três camadas – ou PFF2 que faça isso e distribua aos moradores de rua que cruzar pelo caminho. É o que me veio de fazer agora. É o que tem pra hoje.
Viver é partir, voltar e repartir
(Morte é quando a tragédia vira um costume)
Partir, voltar e repartir
(Pra diferença da qual ninguém ‘tá imune)
Viver é partir, voltar e repartir
(Mas ouça de alguém que nasceu num tapume)
Partir, voltar e repartir
(É só na escuridão que se percebe os vagalumes)
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