Carta aberta aos imunizados

Reprodução/Pixabay
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Senhor e senhora,

Os trintões estamos vivendo em uma bolha. De um lado, as pessoas com que convivemos estão, parcial ou completamente, como você, imunizadas, vivendo a vida quase normal — e nos colocando em risco. De outro lado, estão doentes. Entre a cruz e a espada, escolhemos a bolha. E não ouse furá-la.

O fenômeno passa despercebido por você, no alto de sua imunização. Mesmo os nossos familiares mais próximos, também deslumbrados pela sensação de normalidade, aparecem com propostas indecorosas que, se tivermos sorte, nos custarão apenas um pulmão. Isso porque deltas, gamas e betas, quando pegam um de nós é para matar.

O parente imunizado, cheio de saudades, mas despojado de empatia, poderia dizer: mas que exagero! É só uma visitinha rápida! E quando se vai investigar o pregresso do ente querido descobre-se que ele almoçou com o fulano, tomou chá com sicrano e praticou uma turnê mundial de visitinhas rápidas a beltranos. Agora chama para um café.

Ai de quem diz que a vacina não causa efeito colateral. Causa sim: egoísmo. Lembro-me do início do apocalipse, quando o Mandetta pediu que cuidássemos dos nossos velhinhos. Eu só podia pensar nos meus pais ao tacar a mão no olho depois apertar o botão do elevador. Agora é a vez de retribuir o cuidado.

Nesta semana os trintões começaram a vacinar. Eu mesmo devo oferecer o meu braço em breve. Ainda assim, teremos pelos menos mais 15 dias na bolha, até a vacina surtir algum efeito.

E não ouse furar.

Guilherme Scarpellini

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  • E quem já teve é imunizado ou não ? A maju da globo diz que não. Pesquisa em Israel diz que a infecção gera anticorpos 7x mais potentes que a Pfizer. Sou 30ao curado estou com a vida normal. Nunca peguei novamente e tive inúmeros “novos” Contatos com contaminados. Mas, cada um faz o que julga melhor.

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Guilherme Scarpellini
Tags: crônica

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