Relendo os últimos textos que escrevi para o Mirante, me dei conta tde que estou quase sempre falando de música. Isso é bem curioso porque nunca tive bom ouvido, não toco nenhum instrumento e meu nível de afinação não permite que eu cante na presença de desconhecidos ou na ausência de álcool. A música, no entanto, é o meu lugar seguro. Eu preciso de música para trabalhar – quem já participou dos processamentos de memória que conduzo sabe que a música popular é parte crucial do processo –, para acalmar a alma, para sorrir, para chorar, para lembrar e para esquecer.
Agora de manhã, as notícias sobre a disseminação rápida da variante Delta no Brasil me lembraram do estado de alerta em que estamos vivendo (ok, como se fosse possível esquecer, né?). Chamei o trompete de Miles Davis para me socorrer. E um cheirinho do óleo essencial de hortelã-pimenta, que também ajuda a dispersar o horror.
Sabe esses fones de ouvido enormes que os adolescentes usam e que parecem transportá-los para uma outra dimensão, para desespero dos pais? Então, eu sou a mãe de uma adolescente, mas infinitas vezes eu e minha filhanos refugiamos em mundos parecidos… embora seja provável que o universo dela toque Now United, enquanto o meu revive o rock nacional dos anos 1980.
Não estamos – nenhuma de nós duas – fugindo das nossas realidades. Estamos apenas criando maneiras possíveis de lidar com elas. A música – como o silêncio – é terapêutica. E muitas vezes essas canções que ecoam somente nos fones de ouvido e ao resto do mundo revelam apenas o silêncio são também uma forma de nos organizar por dentro.
O trompete de Miles segue me trazendo calma para lidar com o resto do noticiário, que não me parece melhor do que as manchetes sobre a disseminação da variante Delta. Now United faz minha filha dançar com fones de ouvido enquanto os amigos continuam distantes, a vida pede máscaras e os dias da adolescência seguem ameaçados por um vírus mortal para o qual já existem vacinas que ainda não chegaram para todos. Ali na sala, meu companheiro também tem fones de ouvido, provavelmente entregues a alguma cantora de samba que despontou na Lapa antes que as portas dos bares fossem fechadas, há pouco mais de um ano. No quarto, quase inaudível, a caçulinha dedilha um violão maior do que ela.
Seguimos. Com música. Em silêncio. Até que todos os sons possam novamente ecoar em ambientes festivos, celebrando a vida que há de romper este tempo e voltar a brilhar, em múltiplos acordes. Em breve, há de ser carnaval.
Mário Sérgio Todos os preparativos, naquele sábado, pareciam exigir mais concentração de esforço. Afinal, havia…
Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Com a proximidade do Natal e festas de fim de ano, já…
Peter Rossi Me pego, por curiosidade pura, pensando como as cores influenciam a nossa vida.…
Wander Aguiar Finalizando minha aventura pelo Caminho de Santiago, decidi parar em Luxemburgo antes de…
Como é bom ir se transformando na gente. Assumir a própria esquisitice. Sair do armário…