Márcio Magno Passos
Ser prefeito hoje é muito diferente de ter sido prefeito no passado. Lembro-me ainda criança, quando o prefeito aparecia no bairro ou localidade. Sempre dia de festa, recepção preparada, a melhor quitanda ou o almoço mais variado, os vizinhos reunidos, clima de alegria e orgulho por visita tão importante. Até mesmo os adversários políticos se rendiam à figura do chefe do Executivo e respeitavam sua representatividade conquistada no sufrágio universal e democrático das urnas.
As coisas mudaram muito. Hoje tem prefeito que não consegue ir a determinados bairros e localidades sem ser hostilizado. Para as crianças, a presença do prefeito em seu bairro não faz diferença alguma, não significa nada. Mesmo os adultos mudaram o comportamento e a visita da maior autoridade do município nem sempre é bem desejada e, muitas vezes, não passa de um rápido bate-papo no portão para não atrapalhar a novela.
É que quase ninguém acredita mais em político.
Poderíamos dizer que a culpa é dos deputados e senadores que transformaram o Congresso Nacional em praticante e avalista da corrupção que campeia na função pública brasileira. Mas não é só isso. É que o eleitor está cada dia mais exigente e, para ser eleito, o político tem que prometer quase o paraíso, se não for possível garantir o céu. Se não prometer não elege, se promoter demais não cumpre. E a credibilidade vai ficando, a cada eleição, mais baixa.
Não bastasse tudo isso, a realidade da administração pública hoje é muito diferente daquela de vinte anos atrás, quando o prefeito fazia o que bem entendesse. As leis agora são muito mais rigorosas e a atuação do prefeito ficou bem limitada. Não se pode gastar mais de 50% do orçamento com funcionários, 25% tem que ir para a educação e 15% para a saúde. Sobram 10% para manter todos os outros programas e equipamentos públicos, tirando ainda daí os recursos para cumprir o que foi prometido durante a campanha. Não é preciso ser bom de matemática. Basta raciocinar e ver que não dá.
Mesmo com tantas dificuldades, ainda aparece um ou outro gato pingado querendo ser prefeito da cidade. Aí ele tem que disputar a convenção de seu partido para ver seu nome aprovado, é obrigado a tornar público todo o seu patrimônio particular muitas vezes conquistado a custo de suor de várias gerações da família e tem, ainda, que parar de trabalhar para fazer a campanha eleitoral.
Se aparece mal nas pesquisas, ninguém lhe dá importância. Se aparece bem e com possibilidades de ser eleito, aí surgem os desesperados pelo poder com a política do vale tudo e jogam na lama, sem nenhum escrúpulo, o nome de qualquer um. E o que é pior, neste lamaçal valem mentiras e acusações levianas, sem o mínimo de respeito aos concorrentes e suas famílias, sob a esfarrapada desculpa de vida pública. São idiotas sem caráter que mancham com a prática de golpes baixos o que deveria ser exemplo de respeito à democracia.
Eleito, pode assumir o governo com as melhores intenções, mas vai ter que enfrentar quatro anos de ira de quem foi derrotado, além de um Ministério Público que peca pelo excesso de denuncismo sem resultados práticos, leis rígidas e dezenas de cobranças diárias, muitas das quais impossíveis de serem cumpridas, em contraste com outro lado que se omite de sua função fiscalizadora. Se o prefeito assume com poucos inimigos, com certeza deixa o cargo com muitos. E quase sempre com fama de ladrão.
Toda essa situação nos ajuda a entender o porquê de tanta gente boa não aceitar nem discutir a possibilidade de disputar uma eleição. Por outro lado, nos faz valorizar alguns poucos que ainda assim têm coragem de colocar seus nomes na disputa por idealismo e vontade de fazer o bem. Resta-nos pensar muito e dar o voto de confiança a quem realmente merece. Mesmo acreditando que já não vale tanto a pena ser prefeito.