O povo de Pindorama deu um basta no presidente. Já é hora de ir!, o grito ecoou das ruas. Por isso, o pior governante da história daquele povo sofrido — e também muito arrependido — ficou conhecido como Jair.
Era mesmo um péssimo presidente esse Jair. Destrambelhado, só abria a boca para falar asneira e abria a boca sempre. Embora sentisse um prazer quase sexual em mandar jornalistas fecharem as suas. Com isso, repórteres poderiam entrevistá-lo, desde que não fizessem perguntas. Foi assim que a rádio Peter Pan chegou ao topo da audiência.
Quando a peste chegou, Jair tratou de evitar o pânico. Para ele, tudo não se passava de histeria. Afinal, 500 mil mortos não eram um milhão — ainda. E homem que é homem não deveria ter medo de gripezinha. Até que faltasse oxigênio.
A conta de mortos não parava de crescer em Pindorama, e Jair proibiu o uso de máscara. Afinal, para ele, máscara era coisa de “viado”. Sorte é que veado e burro são espécies diferentes, e a maior parte do povo de Pindorama soube diferenciar.
Desafeto número um da Constituição, inimigo público da vida e já dando sinais de desespero, Jair se isolou no Palácio de Pindorama. Diante de um escândalo de corrupção envolvendo a compra de vacinas indianas a preço do Taj Mahal, nem os deputados do centrão atendiam mais aos seus telefonemas. A coisa piorou.
Com uma taxa de rejeição que cabia dentro do buraco em que havia metido o povo de Pindorama, não restou alternativa: Jair resolveu mudar. Pôs um salto alto, um lindo vestido vermelho e trocou de nome.
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