Guilherme Scarpellini
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Ditadores também têm família. Saddam Hussein tinha a sua, e delegou ao primo Ali Hassan al-Majid a missão de expulsar os membros da etnia curda de regiões no norte do Iraque, na década de 1980. Ao cumprir as ordens do parente, usou veneno de rato e gases tão tóxicos que poderiam reduzir os seus pulmões a dois grãos de feijão. Pelo massacre de 150 mil curdos, entrou para os anais do inferno como Ali, o Químico.

Já Enfraín Ríos Montt cruzou os braços. O ex-presidente da Guatemala, durante a guerra civil na década de 1980, viu os seus soldados fazerem um cerco em torno dos povos indígenas e esperou. Quarenta mil morreram. Em grande parte, de fome.

Em Mianmar, mulheres e meninas da etnia rohingya são alvos do governo, segundo denúncia apresentada ao tribunal da ONU. Descobriu-se que, se mutiladas, não conseguem reproduzir. Trancar moradores dentro de suas casas e, depois, atear fogo nelas também funciona como medida de controle. Até hoje, cerca de 30 mil foram dizimados.

Quando Portugal declarou a independência do Timor Leste, em 1975, a Indonésia resolveu tomá-lo para si. Passou por cima da população nativa, deixando cerca de 180 mil mortos. Ao restante foi imposta a cultura e a língua dos invasores.

Em Uganda, na mesma época, 300 mil membros das etnias acholi e lango foram mortos pelas forças do ditador Idi Amin. Em Darfur, no Oriente Médio, desde 2003, milícias árabes ceifaram 400 mil vidas de membros de etnias de origem negra.

O que todos esses episódios têm em comum? São genocídios. Mas nenhum deles ultrapassou a marca de 500 mil mortes provocadas, em parte, pela insanidade de seus presidentes.

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