No tarô, a carta do Pendurado – ou O Enforcado, em alguns baralhos – é sinal de que o consulente está amarrado pela perna, de cabeça para baixo, esperando a Morte chegar. É tempo de sacrifício, dor e espera. Eu gosto da simbologia do tarô. Ela explica bem a nossa caminhada por este planetinha. Mas não gostaria que o Pendurado fosse o protagonista deste meu primeiro texto no blog. Preferia falar sobre a Estrela, que é mais bonita e traz leveza e esperança a quem passou pela hecatombe da carta da Torre. No primeiro semestre de 2020, quando tudo se fechou e nos mandaram trancar as portas de casa, eu acreditei que estávamos a um passo da Estrela. Ledo engano.
Passados os primeiros meses, em que o ar das metrópoles tornara-se mais respirável e as tardes no meu apartamento cheiravam a fornadas de pães e eram sucedidas por noites de vinho e música, o vírus começou a mostrar sua face mais sombria. Pessoas queridas adoeceram – algumas começaram a morrer, sem direito a despedida – e a vida encerrada dentro das paredes brancas, entre aulas online, reuniões no Zoom, atendimentos por videoconferência e o noticiário cada dia mais mórbido, passou a sinalizar o distanciamento da Estrela e a proximidade do arcano que eu temia encontrar nas minhas tiragens: 2020 era, literalmente, o ano do Pendurado.
Amarrados de cabeça para baixo, numa posição incômoda e “mal confortável” – o termo, criado pela minha caçula, parece mais apropriado que o “desconfortável” pedido pela norma culta –, nos ajeitamos como pudemos e nos resignamos à longa espera. Sim, meus amigos, o Pendurado é um arcano de evolução lenta. Não é como A Torre, que joga no chão tudo o que construímos e nos obriga a ganhar forças para recomeçar. O Pendurado é um 2020 que avança para dentro de 2021. E talvez a gente passe tanto tempo preso nesta corda porque só existe uma única maneira de nos libertarmos deste arcano: avançando para o próximo, que é a carta da Morte.
Aqui cabe um adendo: no tarô, A Morte é transformação. E olhar o mundo sob a perspectiva do Pendurado talvez seja a única forma de nos fazer enxergar de cabeça para baixo o que nos acostumamos a achar normal apenas porque não conhecíamos outra perspectiva. De modo que este texto de estreia carrega também uma mensagem de esperança: pendurados pelo pé, individual e coletivamente, temos uma oportunidade ímpar de olhar a vida por outro ângulo. E talvez já seja tempo de matar aquilo que não nos serve e mobilizar a grande transformação. O que acham?
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