A casinha de tramelas

A casinha de tramelas – Foto: Pixabay
Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Algumas casinhas são pura poesia e sonho. A de tramelas, lá pelas bandas das ramificações da Serra da Canastra, é uma delas. Na chegada, nos dá as boas-vindas com o perfume de suas lavandas. Ali presentes estão também dois pés de caju marcando a sua idade, pois os mesmos já são bem crescidos. Contam que nunca deram frutos, mas hoje estão incrustados de orquídeas e com promessas de muitas flores. As marcas na construção nos mostram a transformação que passou ao longo de sua existência.

Feita em anos passados serviu de moradia para muitos outros trabalhadores do campo. Em sua última reforma foi repaginada e adquiriu muitas outras histórias vindas de outros lugares. As portas, no seu total de quatro e seis janelas de madeira, colocam nossa imaginação a pensar. São belos exemplares com muitos tons de marrons. Os remendos de madeira nobre formam um mosaico de cores. Serão 50 tons de marrons? De qual árvore são? Peroba rosa? Cedro? Ipê? Mogno? Pau ferro? Nogueira? Jacarandá? Todas essas raridades?

A tramela – há quanto tempo não a via? Para quem não conhece: é um pequeno pedaço de madeira que é preso na porta, normalmente por um prego, e que faz a trava junto ao portal quando fica na horizontal. Nada de fechadura, somente uma tramela –  palavra sonora. Essas obras de artes incorporadas na casinha foram feitas por marceneiro habilidoso e com material de demolição. Vê-se o capricho e o carinho na moldura bem talhada. A paisagem verde e a brisa do mato entram no ambiente quando as seis janelas estão abertas trazendo mais harmonia.

Sua cozinha sem paredes é um desfrute para apreciarmos os pássaros que ali chegam para comer do alimento que lhes são oferecidos. Também transitam em voos despretensiosos. Há muitos locais para o desfrute alimentar das aves. Vão desde esculturas no jardim a mini-casas para se aconchegarem. Ao fundo da cozinha e do lado externo encontram-se três esculturas de ninho de João-de-barro junto aos galhos de árvore seca. Ficam presos ao teto e é outra carícia da casa para os passarinhos que ali quiserem fazer seus lares.

No entardecer, o espetáculo da natureza – o pôr-do-sol comparece à sua frente. Tomando um cafezinho ali mesmo, na cozinha, ele se faz presente em suas nuances de cores laranja, vermelha e rosa que contrastam com o verde da mata e o azul do céu. Um filhote de border collie, de olho azul, que atende por Bela, brinca por perto.

Na casinha de tramela, o anjo Gabriel deixou de ser o anunciador para ser anunciado. Tudo isso é a manifestação do AMOR.

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Sandra Belchiolina

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