Reprodução/Google Doodles
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Nem só o horror causado pela avalanche de mortes diárias nos dá sinais de que estamos mentalmente piores do que quando entramos nesta cilada sanitária, a pandemia. O comportamento dos brasileiros perante o oráculo dos ignorantes, com endereço eletrônico www.google.com, revela o quão malucos estamos no confinamento.

Relatório divulgado pela empresa, que sabe até quando você dorme sem escovar os dentes, mostra que o termo mais pesquisado pelos brasileiros em março de 2020, quando a OMS declarou a pandemia de Covid-19, foi: o que é quarentena. Aprenderíamos, na prática, que não se trata de 40 dias.

Mas não gastou tudo isso para que os liberais de 2018 tornassem defensores da distribuição de renda já em fevereiro de 2020. O primeiro lugar do ranking de pesquisas no Google foi: como transferir o auxílio emergencial? De 600 a 200, 300 mil mortos.

A angústia gerada pelo número crescente de mortes e pelo confinamento era tanta que descontávamos no marido, na mulher, no cachorro as agruras pandêmicas. E na falta do outro, descontávamos na geladeira mesmo. Em maio de 2020 tudo o que quisemos saber foi “como fazer chocolate quente?”.

De tanto encher a cara de vinho, destilados e chocolate quente, começamos a faltar com os compromissos da clausura. Furávamos aquela live chata, engambelávamos as videoconferências e perdíamos as chamadas fora de hora, afinal, não havia hora para nada mesmo. E o termo mais buscado no Google foi: como gravar uma videoaula? Sim, aquela videoaula que deixávamos rodando, ao tempo em que vigiávamos as panelas no fogão.

Julho chegou. Pela primeira vez atingimos a marca de três dígitos de mortes diárias. E, pela primeira vez, apelamos às mandingas, ao Santo Daime e ao boi-bumbá. O povo quis saber: como tomar ivermectina para covid?

Em agosto, o que não matou, engordou. Os sobreviventes voltamos a buscar no Google receitas de bolos, pães e pizzas. Em setembro, já estávamos comendo bolos, pães e pizzas enrolados em nossos próprios cabelos. E o campeão das pesquisas no Google foi: como cortar a franja sozinha?

Outubro passou e nós passamos por ele, introspectivos. Em novembro voltamos a socorrer-nos ao pai dos energúmenos. Em novembro, quisemos saber do Google: como justificar o voto? Em dezembro, como jogar na mega da virada?

Em janeiro, sem auxílio emergencial, sem governo e sem ar, foi a vez de saber: quanto custa um cilindro de oxigênio? Em fevereiro, já desenganados, restou perguntar: como votar no BBB?

Hoje, o Google já não responde mais. Desistiu dos brasileiros.

Guilherme Scarpellini

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