Ruas e avenidas desertas em BH

foto: Divulgação EM/ VivaJK
Eduardo de Ávila

Quando ancorei, pela primeira vez, em Belo Horizonte foi uma imagem inesquecível. Ainda criança, em torno de dez anos, passei por aqui indo para o Rio de Janeiro. O impacto em ver o mar, que jurava ser impossível não enxergar a outra margem, nem foi tão forte como olhar os prédios da capital mineira e o louco trânsito. Isso em 1967.

Também pudera, até então, acredito que além de Araxá – onde nasci e passei infância e início da adolescência – só tinha ido a Ibiá, Uberaba, Uberlândia e Perdizes. Minha cidade, naquela ocasião, tinha prédios de no máximo três andares. Imagina avistar o Edifício JK, olhando da Rua Rio de Janeiro com Augusto de Lima (Edifício Esther), onde conheci um elevador para ir ao 11º andar onde morava uma prima – Zilda – que me acompanhou naquela primeira aventura como turista.

Foi muito marcante e importante essa empatia com a capital mineira – que anos depois me acolheu como estudante – onde acabei fixando minha vida pessoal e profissional. Em outros posts, já tive a oportunidade de mencionar sobre tudo que Belo Horizonte me proporcionou e ainda me estimula a querer viver por mais algumas décadas. Desde o meu time do coração, passando por inesquecíveis boas relações, sentimentais ou de amizades. Gosto daqui e circulo, atualmente, na condição de filho honorário, conferido pela Câmara Municipal, através do então vereador Lúcio Bocão.

E é aqui, durante esse louco período que o mundo está passando, que vivo minha fase de isolamento social. No início disso, muito disciplinado, fiquei de meados de março até o final de julho do ano passado trancado dentro de um apartamento, sozinho e confinado. Compras por telefone e sacolas desinfetadas, produto a produto, para nova temporada. Sempre sonhando com a liberação para a próxima semana ou mês, o tempo foi passando e o medo dando lugar à ousadia.

Foto: foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A press

Quando estava prestes há completar um ano, agora em liberdade condicional (com direito a trabalho presencial), a nova onda assusta e nos tranca todos novamente em casa. De lá para cá, apesar do atraso na vacinação, a doença já não é tanto desconhecida pelos médicos. A gravidade, ao que estamos percebendo, é até maior nessa segunda onda, mas os cuidados e tratamentos já são mais eficazes.

Claro está que ao sermos vacinados, atingindo a imunização de rebanho, vamos ter o cenário ideal para seguir nossas vidas. Até que isso aconteça, comemorando até que a vacinação comece a ter maior celeridade, temos a obrigação de nos preservar e também aos que estão ao nosso entorno. Não estou tão isolado do mundo quanto estive da primeira vez. Aprendi nesse período a utilizar melhor as redes sociais, tenho me permitido uma caminhada curta nas proximidades de onde moro, ainda regularizando minhas consultas médica e odontológica, além – ainda bem – indo aos jogos do meu time na condição de jornalista credenciado.

Com isso, e me valendo de todos os cuidados recomendados pela ciência e profissionais da saúde que seguem esse bom senso, diria que está sendo menos penoso que no início da doença. Seguirei trancado em casa, saindo muito eventualmente, até que possa ser imunizado. Creio que em dez dias devo tomar a primeira dose da vacina.

O que mais tem me impressionado nos últimos dias são as ruas vazias, notadamente à noite, pelo toque de recolher. Ainda que possamos ouvir movimento de quem ainda não entendeu a gravidade da situação. No último final de semana foi duro. A rua deserta como nunca havia ocorrido na capital, mas algumas festinhas incomodando. Nem tanto pelo barulho, mas sim pela falta de sensibilidade na exposição e no risco de contrair e transmitir o coronavírus.

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