Na Pandemia, maio 2020

Imagem de cromaconceptovisual por Pixabay
Rosangela Maluf

No comecinho de abril do ano passado (2020), voltei para Belo Horizonte depois de dezoito dias no interior, cuidando da minha mãe, idosa de 95 anos, hospitalizada com infecção pulmonar e urinária. No último dia de março ela faleceu, deixando um vazio gigantesco. Ainda não havia no hospital nem naquela cidade, nenhum caso de coronavírus. 

Ligava a TV e via que não se falava em outro assunto. O número de mortos, crescente e acelerado, nos assustava a todos, e nos causava estranheza o comportamento desconhecido e aterrorizante desse novo vírus.

De volta à capital, encontrei a cidade bem vazia. Poucos carros circulando e muita gente usando máscara. Entretanto, chegando ao meu bairro, nada me pareceu haver de anormal. Muitas pessoas na rua, sem proteção. Carros circulando normalmente. A fila no terminal do Banco 24 horas em nada lembrava a gravíssima situação que vivíamos já há algum tempo.

Um ano já se passou. Há 365 dias estamos em quarentena. As pessoas são diariamente bombardeadas com números assustadores convencendo-as de que o isolamento social é hoje a única maneira de manter o vírus sob um mínimo de controle. 

Todos em casa. Todos confinados. Todos isolados, convivendo apenas com os moradores do mesmo local. Atenção redobrada aos chamados “grupos de risco”: idosos, portadores de diabetes, pressão alta, problemas respiratórios, obesidade, enfim… Um cuidado extremo para que a batalha contra o vírus seja ganha, ainda que pouco a pouco.

Vejo o jornal e fico sabendo que EUA e Europa fecharam suas fronteiras. Ninguém mais viaja por lazer. Os aeroportos estão vazios, levando o setor de Turismo ao pior momento em toda sua história.

Se sairmos, por um motivo justo ou necessário, manteremos a distância de aproximadamente um metro e meio uns dos outros. Nada de abraços. Nada de beijos. Nenhum contato é bem-vindo!

Nas lojas e supermercados, quando autorizados a funcionar, todos obedecem normas rígidas: linhas delimitando a entrada, fitas dentro das lojas para afastar as pessoas. Dois a três clientes por vez, para serem atendidas por equipes de vendedores devidamente mascarados e usando álcool gel a cada atendimento. Tudo é imediatamente esterilizado: mãos, braços, os cartões de crédito utilizados, as embalagens, os carrinhos, com álcool gel disponível à entrada dos estabelecimentos.

Com o fechamento dos bares e restaurantes o serviço delivery foi imensamente aumentado, todos oferecendo entregas a domicílio, beneficiando os motoboys, agora solicitados por todos os segmentos, principalmente o alimentício.  

As escolas estão fechadas. As crianças estão em casa com toda a energia e agitação. Nada de parques, nada de playgrounds. Presas em casa, sujeitas ao mau humor do pai, a falta de paciência da mãe, brigando com os irmãos, sem poder beijar a vovó, sem ver a titia, um inferno. Nenhum contato com os colegas da escola nem com os amigos do prédio.

As igrejas se omitiram. Fecharam os templos negando aos seus fiéis um local onde pudessem aliviar suas dores. Alguns pastores chegaram ao absurdo de oferecer “salvações” por mais de mil reais. O povo sem dinheiro. Sem ter o que comer. Sem ter o que fazer com as crianças em casa, presas. E eles lá, do alto do seu egoísmo, ganância e falta de amor ao próximo.

As praias, os calçadões, as praças encontram-se vazias. Tudo fechado ao público, restrições a quem precisa ou necessita de uma exceção. Esporte não se vê nenhum: nem nas TV’s, nem nas praças, nem nos campos. As competições foram canceladas, as olimpíadas, as peladas nos finais de semana. 

Festivais, shows musicais, teatros, concertos e espetáculos de dança foram cancelados sem a menor previsão de retorno. As novelas, que divertem a grande maioria dos brasileiros, deixaram de ser gravadas, antigas histórias voltaram a ser exibidas.

Quem programou casamentos, batizados, aniversários, formaturas e quaisquer outras comemorações familiares, também teve que cancelar todos eles.

Nos hospitais a situação é ainda mais triste: faltam leitos, faltam CTI’s, faltam respiradores, falta pessoal especializado, médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, entre outros. Os EPI’s, equipamentos de proteção individual estão em falta: máscaras, luvas, aventais, protetor de cabelos, de pés.  

Como se não bastasse todo o cenário de horror e de guerra, o pior-presidente-do Brasil, substituiu o Ministro da Saúde desejando minimizar o distanciamento social; o Ministro da justiça Sérgio Moro acaba pedindo demissão por não suportar a pressão e a incompetência de Bolsonaro querendo interferir nas investigações no STF para proteger seus filhos.

Por falar em imbecis, o Ministro das Relações Exteriores, conhecido por atitudes e discursos completamente absurdos, chegou ao ponto de afirmar que a COVID-19, é um complô comunista organizado pela OMS. Dentro do seu raciocínio resolveu criticar o que chamou de Cientificismo.

É pouco ou queremos mais????

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