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Pai para a eternidade

Tais Civitarese

Se um pai soubesse a oportunidade que tem ao ser pai, não a jogaria fora. Se um pai soubesse que o filho anseia por ele tanto quanto pela mãe, ainda que não o expresse de forma imediata, seria presente. E enfrentaria seus demônios em prol de um amor único no mundo.

Se um pai soubesse a importância que tem, a segurança que traz… Se soubesse que seu bom exemplo poderá ser seguido por toda uma vida com devoção… Se soubesse que é um ídolo, a miragem de um deus para a criança, ainda que seja apenas um homem comum… Se soubesse que é alvo de um amor impressionante, que nem a mãe é capaz de absorver… Um amor misturado a devoção e ao desejo de perpetuação de sua força por toda uma vida… Que pode viver através de seus filhos ao transmitir-lhes suas ideias com afeto, e que pode impactar a vida deles de forma eterna… Que serão seus escudeiros, seus devotos, seus amigos… Que o carregarão no colo quando todo o resto partir… E afagarão seus cabelos brancos com a mesma ternura com que tiveram afagadas as bochechas em pequeno…

Portanto, não sejam tolos. Não percam essa chance.

Vejo diariamente crianças cujo pai e a mãe tem o mesmo nome: o da mãe. Ou cujo papel paterno é desempenhado por parentes de forma intermitente, apesar de generosa. E fico me perguntando o que leva uma pessoa a gerar um filho e lhe virar as costas. Ainda que a mãe não lhe caiba mais na vida. Ainda que tudo dê errado. 

A criança é independente disso. Ou deveria ser. É um tesouro que requer zelo e cuidado. É a chance que se tem de fazer algo bom.

Após observar a história de muitas famílias, percebo que reunir-se mais tarde na vida não adianta mais. O que se perdeu estará perdido para sempre. O que se estabelecerá depois será uma outra relação, uma outra conexão. Ainda que o vínculo “paterno” seja a base biológica da história, o suposto quociente afetivo desse laço não o acompanhará.

Algumas lacunas que ficam na criança não são passíveis de reparo.

Sim, a infância é difícil, laboriosa, enfadonha às vezes. Mas é a única chance. Se você pula essa parte e entra no barco quando ele já está navegando, as coisas não serão mais as mesmas. Não espere o mesmo afeto. Você perdeu a janela. 

As crianças funcionam como janelas que se abrem e fecham. Uma vez fechadas, elas não se abrem mais. Abrem-se outras, para funções diferentes. Portanto, faça seu vínculo de amor enquanto é tempo. 

O estrago de uma negligência paterna é desastroso. Ouso dizer que é transferido para toda a sociedade na cota de desamor que nos assola dia a dia. Em crimes, violência, atos de crueldade. Se não responde por tudo, responde por grande parte.

Portanto, meus amigos, sejam pais de verdade. Ainda que o bebê, num primeiro momento, “prefira” a mãe. Ainda que você não tenha um peito cheio de leite ou “não leve jeito” para trocar fraldas. Ou não tenha paciência. Faça a sua parte. Esteja presente. Não abandone. Apoie. Aproveite a chance de perpetuar no outro o que você trouxe de bom a esse mundo. Não desvincule. Não deixe a janela se fechar antes de regar as plantas. Invista seu amor e não haverá dividendo maior nessa vida.

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