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Brasil na terra da fantasia

Montagem com ilustração de ” O Senhor dos Anéis” (Reprodução/Facebook).
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Eu às vezes encaro uns tijolões literários, de muitas páginas e letras miúdas, que levam pouco mais de uma eternidade para ser lidos. Foi assim com “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin. Cinco volumes tão parrudos, que se nos equilibrássemos em cima deles, daria para apertar a ponta do nariz do índio, no alto do edifício Acaiaca — e ainda assim seria necessário fazê-lo de cócoras.

Os catataus “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, “A Guerra e Paz”, de Tolstói, e “A Torre Negra”, de Stephen King, também já os encarei.

Há algum tempo vinha desafiando outro monstro da capa dura, e ora anuncio que venci mais um gigante: “O Hobbit”, seguido dos três volumes de “O Senhor dos Anéis”, todos do autor de literatura fantástica J. R. R. Tolkien.

Narra-se, nos montões de páginas, a história de Frodo Baggins, um jovem hobbit — povo pequeno, pacífico, de pés peludos e que vivem em tocas —, e de sua inadiável missão: destruir o Anel mágico nas montanhas de fogo.

Junto de Frodo, embarcamos em uma longa jornada por campos abertos, reinos mágicos, florestas negras e trilhas congeladas. Na metade do último livro enfim chegamos às montanhas de fogo, em cujas chamas deverá ser destruído o Anel.

Cá, numa realidade que em nada perde para a fantasia, eu iria até mais adiante dos confins do mundo fosse a minha missão destruir nas montanhas de fogo: o Bolsonaro, os filhos dele, os bolsonaristas, o bolsonarismo, o Daniel Silveira, os milicianos, os milicos, o vírus, os antivacinas, os terraplanistas.

Os conservadores, as bancadas da bíblia, do boi e da bala, o gabinete do ódio, as fake news, a velha política, o partido Novo. O BBB, a Jovem Pan, o Alexandre Garcia, a CNN Brasil, o velho da Havan, o Silvio Santos, o Ratinho, a TV Record, a metade do catálogo da Netflix, os videozinhos de WhatsApp, as blogueirinhas fitness.

Gente bêbada, gente briguenta, gente de nariz em pé, gente que não gosta de gente, quase todas as gentes, os racistas, os negacionistas, os obscurantistas, os nazistas, os fascistas, os populistas, os machistas, os homofóbicos, os xenofóbicos.

Os madereiros, os garimpeiros, os grileiros, os antibientalistas, os ruralistas, o Ricardo Salles, o Donald Trump. Os párias, e Ernesto Araújo, o Pazuello, os açougueiros, os armamentistas, os hipócritas, os mentirosos.

A falta de educação, a falta de civilidade, a falta de criatividade, a falta de sensibilidade, a falta de vergonha na cara.

O Brasil.

Guilherme Scarpellini

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Guilherme Scarpellini

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